Sou uma maré, ora vaza, ora cheia; sou uma lua, ora plena, ora em fase de quarto minguante; sou, num momento, dia e noite, iluminada pelo sol ou ensombrada pelas trevas…Mas tem que ser assim; como poderia eu entender as alturas se me mantivesse apenas nas profundezas? E como poderia entender as profundezas se não me elevasse, ainda que por momentos, às alturas? Como poderia saber da luz se vivesse infinitamente na obscuridade e como poderia ofuscar-me e renascer na claridade se a escuridão fosse a minha continuidade? Por outro lado, como saberia que as trevas são trevas se a luz, tão subtilmente, me não chamasse?Tem picos o meu sofrer; tem altos e baixos a minha vida; tem auge e êxtase a minha alegria, a minha felicidade; e no meio de tudo isso navego, sem qualquer rumo pretendido, ao sabor das ondas do viver! Nem quero trevas, nem quero luz, pois uma e outra são bem-vindas… Nas trevas revejo-me na dor, e na luz no esplendor… As duas são a vida, e não existem uma sem a outra, mas as duas, compreendidas, são o infinito a que me dirijo quase sem perceber!Nas lágrimas e no sorriso me espelho; no júbilo e na tristeza me refaço, no vazio e na plenitude me construo, e morrendo para cada uma dessas coisas, sou coisa sem nome, sem rumo, sem desejo, sou um nada e um tudo, um começo que não acaba e um fim que principia a cada instante…
Perdida e achada
Ora dentro, ora fora de mim,
Sou por vezes tudo e por vezes nada,
E outras vezes ainda, sou apenas assim-assim…
De quando em quando rodopio,
Perdida, num néscio turbilhão,
Ou então renasço, aturdida, na calma insuspeitada da imensidão…
Ora plena, ora vazia,
Abraço o silêncio calando à força as palavras…
Pensando que não penso,
Sentindo que não sinto…
Mas tal como o cheiro da maresia que de bem longe já se sente,
Assim eu pressinto cada verdade recém-nascida,
Cada onda enérgica e pujante da vida…
Então solto as amarras e sigo a corrente desse mar imenso,
Não pensando no que penso
Mas sentindo o que sinto…
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