O perigo de escrever é que se não estiver o escritor atento, pode permitir que as palavras grafadas se enraízem no seu pensar, comprometendo inconsciente mas incisivamente a sua liberdade. Escrever sim, mas que as palavras não vinculem, que agitem antes as ideias e o pensamento, que sejam tão, tão leves que não cheguem a ferir ou a estigmatizar ou a elogiar profundamente, irremediavelmente, que sejam sempre o ninho confortável e brando de toda uma prole que está por vir mas cujo destino será sempre crescer em liberdade, cavalgar no dorso do novo e não regressar jamais ao velho poiso.
As palavras para mim são selvagens, não quero domesticá-las, não quero que sirvam para servir um propósito; quero-as rebeldes, inusitadas, meigas, poéticas, incisivas, cruas e nuas, desenfreadas, plenas de revolta e de sede de descobrir; quero-as sempre novas, recém-nascidas, no strings attached, completamente livres para que dêem o seu melhor no momento em que as uso. Sim, porque eu apenas as uso, elas não são minhas; estão meramente aí, à disposição de qualquer um, quietas, expectantes.
E quando não tenho palavras, passeio-me no silêncio, que ele delas não precisa. Ando p’ra lá e p’ra cá e esse silêncio, tão mudo quanto eloquente, fecunda-me e dá-me de novo à luz, a cada instante!
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