A sombra escondia-se do raiar da aurora. O silêncio instalado com o adormecer dos homens cobria ainda o mundo com o seu afago e eu, repousada por um sono no abraço condescendente da noite, abri a janela do meu horizonte e enchi os pulmões com o ar quedo e vivo do amanhecer.
Que longe pareciam as trevas de outrora que nem o sol fulgurante de um meio-dia quente e brilhante podia então iluminar. Despertei com a alma nua e por um instante quis agarrar o tempo e prendê-lo numa mão fechada, crispada até, tal era a vontade de romper o carácter efémero do momento. Silêncio e solidão.
Que medo têm os homens da solidão! E como temem o silêncio! Preferem a multidão controversa e antagónica à natureza pura e desnudada sem a presença de seres atribulados e em tonta correria. Preferem o ruído dissonante que eles próprios criam ao suave murmulhar das árvores e ao sussurro reconfortante da brisa que passa.
Depois sentem-se infelizes porque se sentem sós. E nem sequer se dão conta de que a infelicidade e a solidão só existem porque eles próprios se afastam deles mesmos.
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