Quem vai compreender a dor que sinto?
A felicidade que me inebria?
Eles, que nada sabem de mim?
Eles que correm, feitos doidos, feitos cópia,
Em constante frenesim, atrás de um ideal absurdo
Que os faça deixar de ser assim para ser de outra maneira?
Mas que inútil brincadeira, essa do devir.
Onde querem chegar afinal?
Onde pensam que podem ir se não sabem sequer o que os faz respirar?
Reagem sem pensar, vivem d’imitação,
Enganados, iludidos, vêem uma imagem original
Num espelho por demais repetido.
E veneram o logro, futuro de um presente irreal…
Vivem em segunda-mão: que quotidiano tão bem urdido!
Pena que não passe dum modelo instituído,
Mera projecção leviana de um insano colectivo…
Que lhes assista a coragem de deitar por terra
O que foi decidido, por vantagem, por conveniência;
Que se atrevam e se despojem no silêncio e no nada.
Talvez nessa nudez exposta encontrem a verdade…
Que não queiram galgar montanhas
E vencer obstáculos
Num caminho já traçado e gasto pelo arrastar dos séculos;
Que não queiram ser vencedores de metas alheias,
Títeres de políticas e ideias,
Seguidores de vãs filosofias,
Actores secundários d’estranhos espectáculos…
Que ousem ser o que são, sem destinos nem caminhos,
Que se atrevam a mudar de opinião
E saibam permanecer livres e sozinhos!
Que nessa solidão se deixem levar pelo eterno desafio da mudança,
E sejam como um rio que, num movimento sem fim
E embora tenha leito definido,
Jamais se impede de secar, de transbordar
Ou de fluir assim-assim!
Quem vai compreender a dor que sinto?
A felicidade que me inebria?
Só eu mesma sei de mim.