quarta-feira, 3 de julho de 2013

O Rei Morreu, Viva o Rei ou Ascensões e Quedas



Sempre esteve à vista de todos! Infelizmente ninguém quis ver. Ninguém quer ver. Embora esteja a referir-me à imaturidade do ser humano em geral, não posso, neste momento, deixar de salientar a gritante imaturidade da garotada portuguesa. Governantes e governados. Estão todos ao mesmo nível: catraios cuja responsabilidade se limita ao gozo máximo do brinquedo que, em determinado momento, tiverem entre mãos. Porque no momento seguinte, por obra da volubilidade que caracteriza os petizes imberbes à descoberta do mundo, ei-los que largam, desinteressados, o brinquedo agora entediante e correm à descoberta de outro, tão imbecilmente entusiasmados como quando correram para o anterior.

Movem-se em círculos viciosos. E por mais repetidamente que o façam, parecem retirar da torpe brincadeira o mesmo grau de gozo. São astutos os governantes e uns simples os governados. Será que nem uns nem outros se dão conta da natureza ridícula e de faz-de-conta dos seus próprios actos? O governado, ouvindo falar em eleições, põe as antenas no ar, incha com o direito que alguém não existente lhe outorgou e arroga-se de salvador da pátria, incitando amigos e companheiros a votar em X. O governante, com eleições pela frente, em bicos de pés e todo insuflado, parece crescer com uma autoridade que ninguém lhe concedeu e promete mundos e fundos. Depois das eleições, como se de um ritual se tratasse, o governado, mais uma vez, bate com os cornos na parede perante a imutabilidade das coisas e, mais uma vez, sente-se defraudado; e o governante, manhoso e embusteiro, mais uma vez se governa com uma abundância que não é sua enquanto, hipocritamente, arrota palavras de patriotismo que são tiro e queda para inebriar a inculta e lerda massa eleitoral.

Prossegue a brincadeira. Repete-se o padrão. Uns cansaram-se de brincar e, amuados, gritam a pleno pulmão “Não brinco mais a isto!”. E vão-se embora. Outros, com um  paternalismo fictício e uma bem estudada atitude de aparente responsabilidade e maturidade, batem o pé e insistem “Não vale desistir! Eu vou jogar até ao fim!”.

Ah, povo estúpido, que mais uma vez vais cair na ratoeira que tão subtilmente te têm preparado ao longo de décadas! Ah, povo ignorante, que te não dás conta que por mais que gire o carrocel, as voltas são sempre iguais e a paisagem é sempre a mesma! Ah, povo inculto, que ainda não aprendeste que campanha eleitoral significa, na prática, ditadura autorizada! Ainda não percebeste que eleições são meras disputas de poder entre meia dúzia de macacos que parecem agredir-se à tua frente, mas que, na realidade, são inseparáveis companheiros e frequentam o mesmo galho do conluio e do ludíbrio! Tu, povo estúpido, continuas a dançar ao som do “vira o disco e toca o mesmo”, continuas a venerar candidatos que mais tarde odiarás e substituirás por igual ou pior. Continuas a confundir lobos com carneiros, quer sejam esses lobos os que elegeste ou virás a eleger, quer sejam os tristes e ocos agitadores que te chamam a lutas inglórias e cujo único fim é parir números, contar cabeças do rebanho.

Suspiras por mudança, povo estúpido? Então muda tu.

Anseias por justiça, povo ignorante? Então sê justo.

Almejas liberdade, povo inculto? Então liberta-ta a ti mesmo.


- E lembrem-se - recomenda o lobo, sorridente e persuasor - agora
 é novamente a vez do partido X! Não se esqueçam de votar nele!


15 comentários:

  1. Aqui no Brasil temos os movimentos nas ruas e uma total imprevisibilidade do resultado disso. Uma só coisa é certa. Não há um só político, no momento, a quem apeteça dar nosso voto.
    Um abraço, amiga! Seus textos sempre instigantes e inspiradores!

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    1. Parece, querida Sonia, que político não é digno de confiança em nenhuma parte do mundo! Infelizmente, quem sofre com isso é povo!

      Abraço grande!

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  2. Isabel,

    Muito bom texto.

    De facto estamos a ser governados por políticos controlados e insépidos que se permitem brincar com o poder que lhes foi colocado não mão.

    Como bem dizes, o voto é uma forma de ditadura legitimada.

    Um beijo

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    1. Obrigada Dr. Octopus! Como sabe, as suas opinião são sempre muito bem vindas!

      Beijinhos!

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  3. Olá Isabel G...

    Infelizmente penso que de pouco vale o grito das ovelhas que já se deram conta do esquema que está montado...

    O rebanho é por demais gigantesco para que umas quantas ovelhas que ganharam coragem para mudar e pensar consigam criar a mudança necessária.

    Ainda para mais quando a mudança implica fortes perdas, pois a realidade é que vivemos em total desequilíbrio, seja qual for a dimensão que considerarmos...

    Gostei muito de ter tropeçado neste espaço...

    Um Abraço!

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    1. Caro TBrites, é sempre um prazer receber por cá "ovelhinhas tresmalhadas" que obstinadamente se recusam a fazer parte do rebanho! Seja muito bem vindo!

      Nem imagina como estou de acordo com esta sua frase, que adorei:

      "...a realidade é que vivemos em total desequilíbrio, seja qual for a dimensão que considerarmos..."

      Abraço!

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  4. Olá querida Isabel,

    não tenho tido mto tempo para comentar, mas continuo por cá.
    Dá uma "olhada" nisto, sim?

    https://www.facebook.com/events/439779812787431/?ref=3

    Eu quase que não acredito na realidade...é por demais surrealista e com tendência a ficar cada vez pior...e o pessoal ainda a dormir...é escandaloso!

    abraço amiga, fica bem!

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    1. Olá a ambas...

      Fui ver a ligação que indicou e depois fui ler o texto das motivações!

      "Abolição do atual regime de Democracia Representativa"; "Abolição do Conceito “Partido político”"; "Implementação do modelo de Democracia Participativa" e depois continua com a uma forma de organização inicial.

      Mas só de ler as três linhas orientadores que aqui transcrevi, não vejo como é que conseguirão efectuar tal feito apenas indo para a praça da cidade onde residem, e ficarem lá na conversa uns com os outros!

      Para fazer o que eles propõem é necessária uma Revolução. E as revoluções provocam danos e perdas que a maioria dos portugueses não querem nem sequer pensar nelas.

      Por isto não vejo que com este tipo de actuação, que considero passiva, a mudança se produza!

      Pelos vistos o pessoal ainda não sabe em que tipo de organização social é que existe, e quem é que manda nela... E neles!

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    2. É necessária uma revolução! Sem dúvida. Mas uma revolução diferente: uma revolução individual, praticamente silenciosa, em que cada um se muda a si próprio porque entende que as coisas, como estão, não podem continuar, porque ganhou uma consciência que ainda não é, infelizmente, colectiva.

      Urge que cada um de nós seja, tal como disse Ghandi, a mudança que queremos ver no mundo. Temos de parar de compactuar com uma sociedade corrupta, consumista, egocentrica e altamente aviltante da verdadeira humanidade.

      Por isso, querida aNaTureza, caro TBrites, é que eu acho que pessoas como vocês, que tem os olhos abertos, que sabem pensar e que têm a coragem de ser diferentes no dia-a-dia, a cada segundo das vossas vidas, são a verdadeira revolução. Somos nós, os que temos a coragem de dizer não e que temos a coragem de viver contra a corrente dominante, que contribuimos para a mudança que um dia se tornará manifesta!

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  5. Tem razão TBrites,

    mas quanto mais pessoas mais empenhadas em fazer com que a ignorância deixe de ser o "corrente", melhor. Foco nos objectivos e não nos obstáculos.

    É preciso mostrar a realidade que as pessoas não enxergam porque as distraem com muitos "fogos de artifício". Sei que muitas até não a querem ver, mas algumas simplesmente ainda não somaram 2 e 2. Se começarem a perceber que quase ninguém se safará, mais fácilmente perceberão.

    Penso assim...e bem sei que não faço parte de uma maioria, mesmo qdo olho à minha volta e bem próximo, mas...

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    1. mas...

      Infelizmente o facto de haver mais pessoas a deixarem de ser ignorantes num tema, ou em vários, não é sinónimo de que essas mesmas pessoas irão produzir a alteração na realidade que agora percepcionam, seja por actos próprios seja por influência nos actos de terceiros...

      Ou dia estava a ouvir uma discussão sobre as gerações e a certa altura uma investigadora afirmou que as gerações mais novas, especialmente as da década de 90 do séc. XX e seguintes, apesar de estarem mais informadas e conscientes sobre as questões do Ambiente (poluição, destruição etc), não traduzem essa informação e consciência em actos/acções que sigam na direcção da protecção da Natureza/Ambiente. Ela falou especificamente sobre o facto de esta geração ser muito influenciada pela propaganda/moda/marcas... E facilmente poderemos aceitar esta teoria pois vemos no dia-a-dia os jovens absorvidos pelas questões das roupas de marca, sapatos de marca etc, Já para nem falar nos acessórios electrónicos e não-electrónicos. E já ambos sabemos (penso eu) que marcas não são sinónimo de protecção ambiental.

      Por isso o "mas..." da aNaTureza traduz a sua réstia de esperança de que algo mudará, eventualmente!

      Também acredito que algo mudará... Infelizmente a força motriz desta mudança não será a nossa Acção, falando a nível de espécie!

      Abraço...

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    2. Caro TBrites, permita-me discordar quando diz que a mudança não será a nossa Acção. Será sim, e a prova disso é a maneira como olha para a vida! Só pelo facto de a ver com olhos de ver, está já, individualmente, a pôr em funcionamento o processo colectivo da mudança. A sua Acção é Mudança!

      Fico muito feliz com a sua partilha neste blogue!

      Abraço grande!

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    3. Olá Isabel, acho que não!

      O meu comportamento é uma reacção. Considerava ser acção se desde que adquiri consciência do que sou, e de quem sou, a minha existência não tivesse sido a que foi e a que, em parte, continua a ser. Infelizmente não tenho capacidade, nem a Sociedade o permite, que seja verdadeiramente independente (evidente que não totalmente pois tal não é possível) e viva de forma sustentável!

      Não será a nossa geração (eu vou nos 39 anos de existência) nem as que se seguem que mudarão por livre vontade o curso absolutamente desastroso da nossa subespécie.

      Estamos a destruir de forma admirável os nossos suportes básicos de vida, e já estamos a pagar o preço de tal feito!

      A minha reacção é mudança? É... Mas não está a alterar os fundamentos nem a génese do problema!

      Abraço grande!

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  6. Visitei pela 1ªvez o blog e gostei, tenho a certeza de que se irá passar alguma coisa que vai mudar a mentalidade do mundo em geral, este sistema está contaminado e não tem muito mais tempo de vida, o povo está a acordar, é só ver o que se vai passando pelo mundo para perceber o descontentamento,serão momentos conturbados mas depois tudo será diferente, a ver vamos!!!!!

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    1. Caro Anónimo, tal como disse acima ao caro TBrites, sinto-me feliz cada vez que um ser humano desperto me dá a honra da sua visita!

      Sim, as mentalidades mudarão! Pouco a pouco as pessoas vão despertando, pouco a pouco vão tomando consciência de que o caminho que o mundo leva actualmente só arrasta a humanidade para o abismo...

      Abraço

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