segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Nevoeiro

O dia foi como quase todos os outros. Enfrentar a estupidez, o fingimento. Responder com a deixa mais adequada ao papel que cada um gosta de representar. Engolir sapos também faz parte. E fazer de conta que não se entende a intenção também. E por tudo isto, o esforço da minha própria representação.

Como gostaria de poder gritar que não faço parte de tudo isto. Que a minha vida não passa por aqui. Que ainda que me vejam como mais uma pessoa apenas, eu não sou essa imagem que de mim têm.
Fez sol. Choveu. Voltou a fazer sol e a chover. Abateu-se a noite e com ela as interrogações, as dúvidas. Chegou, como chega todos os dias, todas as noites, a inquietação. Um desassossego sem fim. Um sem-sentido que há que disfarçar com a dolorosa  atitude do politicamente correcto.
Com o sol que desponta parece haver uma esperança. Com a chuva que cai, ora forte, ora dengosa, um estremecimento da alma que não encontra paz. Com o azul do céu, uma possibilidade. Com o cinzento de que por vezes se veste, uma angústia que parece duradoura.
Já noite dentro, adensou-se um súbito nevoeiro. Desaparecerá com a aurora.
E o nevoeiro que preenche o meu ser, alguma vez se dissipará? 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Desolação

Porque será que a maioria das pessoas se ri das coisas sérias e leva a sério as brincadeiras?

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Riscos Superficiais

Acredito que nasci livre. Depois prenderam-me. E fizeram-me muitos riscos. Prenderam-me a convenções, a regras estúpidas, a tradições e a crenças inverosímeis. Prenderam-me a um país e fizeram-me muitos riscos. Riscos de patriotismo, de nacionalidade, de defesa acérrima de uma realidade que só o era para uma minoria. Obrigaram-me a distinguir entre nós e os outros. Ainda que me obrigassem a estudar o mapa-múndi, queriam forçar-me a esquecer o resto do mundo.

Riscaram-me a alma e o coração com riscos algo profundos quando me forçaram a ajoelhar perante um deus. E eu não sabia o que era. E prenderam-me as asas quando me disseram que não podia passar os limites. Que esse deus castigava. Que arderia nas chamas do inferno. E eu também não sabia o que era o inferno.
Riscaram-me o cérebro garantindo que a história do homem era a que me contavam. Que os feitos e as glórias passadas eram uma herança que eu tinha de carregar. Tentaram aprofundar esses riscos quando me quiseram educar. Quiseram riscar-me com heróis de guerras estúpidas e de conquistas cruéis. Tentaram riscar-me com valores inconsistentes, com teorias insustentáveis, com sistemas e leis facciosos. Quiseram riscar-me de tal modo que tivesse por verdadeira a mentira.
A maior parte dos riscos resvalaram nas verdades que a minha alma firmemente albergava. Outros atingiram-me tenuemente já que não penetravam na espessa couraça do meu sentir. Outros ainda, descartei-os eu esquivando-me deles porque achei que não me assentariam. Ficaram apenas uns poucos, quiçá porque abriram sulcos mais profundos. Poli-os cuidadosamente. O tempo ajudou a disfarçá-los e hoje mal se notam.
É uma questão de estarmos atentos. Podemos passar pela vida com apenas alguns riscos superficiais. E além disso podemos sempre poli-los, minimizá-los. Podemos até encontrar-lhes uma utilidade. Ou podemos simplesmente aceitar a sua existência de uma forma tal que não coarctem no mais mínimo a nossa liberdade.
É assim que temos de passar pela vida. Incólumes e intocados na nossa essência, ainda que algo riscados superficialmente...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Grande Incómodo

O autoconhecimento é o começo da sabedoria,
em cuja tranquilidade e silêncio está o  incomensurável.

J. Krishnamurti 
em Comentários sobre o Viver – 1ª série


 
Todos os dias me deparo com pessoas que se sentem incomodadas.  

No café, logo pela manhã, já se ouvem resmungos e reclamações. No trânsito, o rádio do carro propaga mais incómodos. O custo de vida, o mau tempo e as queixas dos agricultores, as convulsões sociais por esse mundo fora. O futebol, os eventos culturais, as modas e as vidas alheias. À hora de almoço, enquanto se engolem à pressa alguns alimentos processados e de fraca nutrição, disparam-se comentários em todas as direcções, partilha-se o desagrado acerca disto e daquilo. Tudo incomoda. A atitude do colega, o discurso do político, a má-criação do vizinho, o trânsito, a fila, a coscuvilheira do prédio que espalha boatos, o treinador que não sabe o que faz, o mau desempenho do jogador. Tudo incomoda. O excesso de calor, a chuva que não pára, o fim-de-semana estragado, a praia que não se aproveitou. Tudo incomoda toda a gente. Ou quase toda. 

Mas nem de ano a ano me deparo com alguém que sinta o grande incómodo. 

O verdadeiro incómodo. Aquela inquietação penetrante e profunda que nos deixa à deriva num aparente sem sentido. Aquele mal-estar importuno e mordaz que seca a garganta, produz calafrios angustiantes e nos força a pensar na velha e recorrente questão do “Quem sou eu?”. Pergunta molesta. Perturbante. Insistente. Instigante. 

O grande incómodo é feito de interrogações, de questionamentos que tantas vezes ficam em suspenso por falta de respostas. Na sua natureza pululam silêncios e espaços incomensuráveis e desconhecidos. E vazios insuportáveis que, que a jeito de buraco negro, parecem sugar-nos toda a energia. Uma vez sentido, o grande incómodo jamais desaparecerá. Poderá diminuir de intensidade, ficar em estado cataléptico, permanecer em letárgica hibernação, mas jamais desaparecerá.  

Ao contrário daqueles que se incomodam por tudo e por nada no quotidiano transitório, aquele que sente o grande incómodo tende a entregar-se ao silêncio e à reflexão. Abandona o espalhafato e a atitude instável do incomodado leviano e inconsequente. Começa a distinguir, com um discernimento antes insuspeitado, o valor intrínseco das coisas. Aparta o trigo do joio e dá a cada um apenas e simplesmente a importância que lhe cabe. Não agiganta nem subestima, não exalta nem humilha. Permanece flexível porém firme e equilibrado, mesmo quando o grande incómodo o obriga a mergulhar em profundezas insondáveis. Não dá ouvidos ao ruído exterior mas escuta atentamente os murmúrios quase inaudíveis do seu interior.  

O grande incómodo por vezes dói. Dói deveras. Sem dor localizada, dói por toda a parte. Dói no coração, dói na alma, dói dentro e dói fora, dói na estrela, na galáxia, no universo inteiro. E outras vezes alegra. Alegra sem razão. Concede uma alegria imensa, quase extática, vinda do nada, cheia de tudo. Uma alegria que revela horizontes inusitados de infinitas possibilidades. 

Os pequenos incómodos, que indignam, que excitam, que estimulam acções e alvoroços, conduzem a becos sem saída, a círculos viciosos, a repetições entorpecentes.  

O grande incómodo, que incendeia sem queimar, que inquieta sem agitar, que estimula a inacção, a ponderação, o autoconhecimento, conduz ao desconhecido ilimitado, ao que é verdadeiramente novo, à suprema liberdade.  

domingo, 23 de outubro de 2011

Por que lutamos afinal?

A bem da verdade, lutamos pela justiça em geral ou pelo nosso próprio bem-estar?

O certo é que passamos a vida indignados com as atrocidades e as misérias e as injustiças que acontecem por esse mundo fora. Revoltamo-nos contra a corrupção, o poderio económico, as desavenças políticas ou religiosas, do nosso e de países que nem sequer conhecemos. Emitimos opiniões peremptórias sobre governos, políticos e mafias. Condenamos terrorismos e guerras e regimes. Fazemos juízos dos outros. Rotulamo-los de forma implacável. Achamo-nos detentores da razão, acreditamos firmemente estar pautados por inquestionáveis princípios de honra.
Contudo, a sociedade, a civilização, é tão só o reflexo das nossas atitudes, da nossa superficialidade, da nossa perigosa imaturidade, da nossa nociva forma de existir.
Passaram-se milénios de civilização. Já deveríamos ter aprendido algo. Já deveriamos ter ultrapassado os nossos instintos básicos, violentos e egoístas. Já deveríamos ter abandonado a visão redutora e abraçado a visão abrangente. Mas não. Continuamos exactamente na mesma. Revoltamo-nos, indignamo-nos, opinamos, julgamos e condenamos.  Mas fazemo-lo sempre em relação aos outros. Sempre em relação ao que nos é exterior. E quanto a nós próprios, como indivíduos? Julgamo-nos e condenamo-nos a nós próprios? Emitimos opiniões sobre as nossas próprias acções?
Não. Não o fazemos. Porque achamos que estamos cobertos de razão. Porque achamos que somos melhores que os outros. Porque achamos que temos pleno direito à nossa vidinha fútil. Porque achamos que temos direito ao nosso telemóvel e ao nosso computador de última geração, ao nosso automóvel topo de gama e ao nosso GPS, à nossa casa atafulhada de confortos e às mil e uma utilidades inúteis de que fazemos questão de rodear o nosso dia-a-dia. Porque achamos que temos direito a jantar fora, a degustar pratos gourmet regados com a colheita X ou Y nos restaurantes em voga, a exibirmo-nos com roupas e adereços com a marca dos estilistas do momento. Porque achamos que temos direito a férias de sonho,  de preferência nos destinos frequentados pelos políticos e pelos Vip’s ,e a empregos que nos inflam o ego, nos inundam de prestígio, o que quer isso seja, e a sentirmo-nos invejados.  Porque achamos que temos direito a empanturrar-nos de cerveja ou afins e a sentarmo-nos em frente ao plasma a ver jogos de futebol em HD. Porque achamos que temos direito a ter o que o outro tem, a ser o que o outro é.
Tentamos saber tudo das vidas ditas glamorosas, sofisticadas, famosas, públicas. Essas interessam-nos, nem que seja para criticar. Tentamos esquecer, contudo, e a todo o custo, as histórias tristes, as vidas miseráveis que nos rodeiam. Afastamo-nos delas porque nos ensombrecem os sonhos megalómanos. Só vemos o que queremos ver. E esta atitude dita o rumo que o mundo leva.
Vivemos num faz-de-conta que mete dó. Somos marionetas escravizadas pelos nossos próprios desejos, manipuladas por aqueles que muito intima e secretamente admiramos e imitamos.
Porque reclamamos agora? Porque nos indignamos e nos revoltamos agora? Muito simplesmente porque vemos goradas as possibilidades de continuar a alimentar as nossas manias de grandeza. Fluísse o dinheiro como em outras ocasiões, e estaríamos bem caladinhos mesmo que soubéssemos que outros metiam a mão onde não deviam, que usufruiam de direitos que não deveriam ter, que desviavam fundos em proveito próprio, que prejudicavam os necessitados em favor dos já abastados, que chacinavam inocentes em nome de um deus ou de um poderio.
Metamos a mão na consciência e ponderemos sobre a fonte da nossa indignação. Se a situação, quer no país, quer no mundo, está como está, a nós se deve. Somos culpados, cada um de nós. E o facto de sacudirmos a água do capote, de atirarmos as culpas a outros, apenas demonstra a nossa imensa estupidez.
É muito bom que nos revoltemos, sim, mas contra nós próprios. Fomos nós que ditámos as regras do jogo. Fomos nós, com a nossa ânsia de poder, com a nossa ambição e egoísmo desmesurados, que criámos a situação actual.
Queremos mudança? Então comecemos nós por mudar. Porque a mudança só pode dar-se em nós próprios, em cada um de nós. Só a mudança individual poderá provocar a mudança global.
Mudemos pois, lutemos pois, mas façamo-lo de dentro para fora!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A FIB em lugar do PIB


“Deveríamos começar a medir a felicidade das pessoas” começou ele, “tal como faz o Butão”. “Em vez do PIB, eles usam o GNH, Gross National Hapiness”. É típico do meu irmão surpreender-me assim. Frases curtas, incisivas, insusceptíveis de criar dúvidas quanto à sua factualidade. Sempre pronunciadas com o mesmo tom de voz sereno e sério com que diria um “Até amanhã. Se precisares de alguma coisa diz”. Costumam despertar em mim um desejo imenso de descoberta que logo tento aplacar com pesquisa e investigação. No silêncio das pesquisas a que constantemente me incita, jamais deixo de pensar que esse trio de virtudes que o caracteriza - falar pouco, pensar muito e instruir-se no que é verdadeiramente nuclear - é uma requintada arte que poucos conseguem dominar. 

Felicidade Interna Bruta… O conceito, a priori, parece desfasado da realidade. Parece adentrar-se no mais difícil dos reinos do ser humano, o imaterial. Também faz disparar os neurotransmissores, mas sobretudo despoleta sentimentos e emoções, e estimula, inegavelmente, a corrida ao armário dos desejos e à arca dos caprichos.

Se se não fizer a devida destrinça entre a felicidade com motivo e a felicidade sem motivo, entre a felicidade tangível e a intangível, entre a que carece de objecto para poder existir e aquela que existe independentemente de qualquer objecto, então passar-se-á a vida inteira numa triste e vã caça aos gambozinos. Mas se houver discernimento, se existir um equilíbrio, que só pode ser iniciado dentro para fora, do pensamento para a acção, então a felicidade, como medida, como indicador, será também a fonte inesgotável de onde brotarão progresso, evolução, desenvolvimento, criatividade. Das suas águas virá a mudança qualitativa que colocará o ser humano de regresso à via do correcto amadurecimento da humanidade.  

E mais. A felicidade não pode ser apenas um atributo das massas. A massa é cega, é bruta, tem comportamento encarneirado. Não, a felicidade tem de ser sentida por cada um, individualmente, com os matizes próprios e únicos de cada ser. E só assim será colectiva. 

Parece-me ser o Butão, dos cento e muitos países do mundo, o único em que impera o bom senso e o equilíbrio (GNH). A felicidade não é aquele expoente máximo de satisfação que se obtém com audis, gajos(as), spas e charutos. É antes um estado contínuo, sem picos resultantes de estimulação pontual exterior. Um estado criativo e inócuo, o único ventre capaz de gerar uma sociedade íntegra.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Mentalidades

Fiquei abismada. Deitei os olhos a um blog que acolhe desabafos e indignações de quem segue a política. De quem a segue passo a passo, minuto a minuto, como se a vida sem ela fosse obra incompleta. Não consegui conter o espanto. Ao ler os comentários li mais palavrões do que palavras comuns. Li mais ignorância e mediocridade do que verdadeira e legítima inquietação. Li coisas sem nexo, li erros de ortografia, frases mal construídas. Li mentalidades toscas, brutas. Li frases papagueadas, chavões por demais ouvidos, queixas repetidas dos que se deixam levar pela corrente, imóveis, sem um único bracejar. 

Como se educa um povo? Ou melhor, será que se quer educar o povo? Por muito que a tente afastar, a imagem que deste povo logo me vem à mente é a de neandertais. Seguram ossos cuja carne em volta deglutem selvaticamente, e riem histéricos de outros, meros objectos de diversão, que se peleiam e retalham espichando o mesmo sangue que os incita. 

Nada se pode fazer. Não enquanto existirem neandertais. Enquanto a mentalidade for sanguinária, violenta, nacionalista e básica. Não enquanto o enriquecimento cultural for feito por meio de jogos de futebol, novelas, casas dos segredos e pesos pesados, literatura de cordel e revistas cor-de-rosa. Enquanto tudo isto existir, nada vai mudar. Continuarão a fluir os palavrões. A ignorância propagar-se-á como erva daninha. Seguir-se-á o “Esfola” logo que alguém diga “Mata!”. O político que guiará este povo será o político que este povo merece. Será o político que dará ao povo o que o povo quer. O líder não é diferente do seguidor, e é por isso que o seguidor escolhe precisamente determinado líder. 

Fico triste. Estou quase a desistir. Desistir de me fazer entender. Desistir de apresentar outros caminhos, outras possibilidades. Desistir de conversar para que se faça luz. Estou quase.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Andando aos "sssss"

Eles discursam, nós ficamos hipnotizados 
      Eles prometem, nós acreditamos 
          Eles gastam, nós pagamos 
              Eles decidem, nós aquiescemos 
                  Eles mandam, nós obedecemos 
                      Eles enganam-nos, nós acreditamos 
                  Eles justificam-se, nós admitimos 
              Eles tocam, nós dançamos 
          Eles exploram-nos, nós deixamos 
      Eles manipulam-nos, nós nem percebemos 
  Eles usam-nos, nós não nos importamos 
      Eles exigem, nós entregamos 
          Eles vivem, nós sobrevivemos 
              Eles candidatam-se, nós votamos 
                  Eles explicam, nós confiamos 
                      Eles pedem poder, nós damos-lho 
                  Eles clamam por autoridade, nós concedemos-lha 
              Eles dizem que é para norte, nós tomamos esse rumo 
          Eles dizem que agora é para sul, nós para lá nos encaminhamos 
      Eles dizem que a tendência é oeste, nós lá vamos nessa direcção 
  Eles dizem que é justo, nós engolimos 
      Eles mandam que paguemos, nós pagamos 
          Eles incrementam a nossa ignorância, nós veneramo-los por isso 
              Eles tratam-nos como crianças de 5 anos, nós chuchamos no dedo 
                  Eles contam mentiras, nós consideramo-las verdades 
                      Eles ditam as regras, nós seguimo-las 
                  Eles impõem o sistema, nós consolidamo-lo 
              Eles governam e governam-se, nós estamos sempre desgovernados 
          Eles corrompem e corrompem-se, nós sabemo-lo e ficamos calados 
      Eles são astutos e malabaristas, nós somos tansos e imbecis 
  Eles são espertos e audazes, nós somos burros e covardes 
      Eles são desavergonhados e hipócritas, nós somos tímidos e débeis 
          Eles não têm escrúpulos, nós temos demasiados

Quando é que vais parar de andar aos “ssss” e começar a pensar por ti próprio?

Confissões de uma burra

Nem sequer sou loura e muito menos barbie, mas devo ser muito, muito, muito burra. É que, por muito que me esforce, há coisas que não me entram, não lhes vejo nexo, não as compreendo.  

A verdade é que ninguém fala dessas coisas, aparentemente ninguém as questiona e vão, portanto, sendo tomadas por certas entrando no nosso dia-a-dia quase sem darmos por isso. Mas o pior é que eu, além de muito burra, sou obstinada que nem uma mula e tenho uma vontade férrea de compreender. Prefiro marrar inflexivelmente até que se faça luz no intuito, quiçá vão, de não morrer tão burra. Não descanso, portanto, até que o meu cérebro se acalme com uma explicação lógica, espontânea e naturalmente advinda de uma ponderada reflexão sobre a razão de ser das coisas.   

É claro que tudo isto, embora seja muito fácil de dizer, para uma burra como eu constitui tarefa titânica. E ainda por cima, se fosse só uma coisa que eu não compreendesse, ainda vá que não vá, mas são muitas, são mais que as mães, são praticamente infindas. E, como além de burra sou distraída, parece que, a cada pedra em que tropeço no meu ameno e jumentil percurso quotidiano, surge uma coisa nova e incompreensível. 

Outra agravante lhes acrescento: é que quanto mais mexo nas coisas, na tentativa quase desesperada de lhes encontrar, à luz do meu burrical cérebro, um só sentidozinho que seja, mais elas começam a feder, mais peçonhentas se tornam, e mais se emaranham com outras que, até aí, não haviam todavia espicaçado a minha asnática curiosidade. 

Para que melhor entendam as dificuldades de alcance da minha parca inteligência, vou dar-lhes alguns exemplos. 

“Este orçamento de estado”, dizia o outro, “viola promessas eleitorais”. Ora eu, que sou muito burra, pergunto “Mas e então as promessas eleitorais são para se cumprir? Eu julgava que as promessas não passavam disso mesmo, meras promessas sem concretização em vista. Para os políticos as promessas não têm prazo de validade, pois não?” 

Ouvi dizer que uma grande percentagem dos portugueses sofre de perturbações mentais, figuras relevantes e importantes desta naçãozita nela incluídas. Até aqui nada de novo. Até eu, que sou muito burra me apercebo disso. Agora, o que me preocupa – e o que seria, sim, digno de nota e de menção nos meios de comunicação – é o facto de que ninguém parece importar-se com as perturbações motoras que afectam a grande maioria da classe política. Coitados, é que nem capazes são de conduzir um automóvel! Deve ser bem frustrante ter de depender de terceiros, neste caso de motoristas, para se deslocarem de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Sim, porque a política é um trabalho, como muitos outros mas que requer mais responsabilidade, não é? Ou estou outra vez a ser muito, muito burra? 

Anunciaram um aumento no IVA da electricidade. Por acaso recebi hoje mesmo a minha conta da luz. E lá está ele, o aumento, bem aplicado aos consumos a partir do primeiro dia do mês. Mas depois, um olhar mais atento descobre que a taxa de exploração – a taxa que substitui o antiquado aluguer do contador – também se pode ver acrescida daquele mesmo aumento. E eu, que sou burra que até dói, pergunto com ar francamente espantado “Olha lá, mas a taxa de exploração também se consome? Eu pensava que essa taxa era fixa por muitos e longos anos, tantos que se fizermos as contas podíamos oferecer contadores, digo taxas de exploração, a todos os indivíduos da comunidade!” 

Ah, é verdade, na conta da água chamam outra coisa ao contador, chamam-lhe componente fixa! Quem me dera não ser tão burra e ter sido dotada à nascença de semelhante imaginação e inteligência! 

Outra coisa que também não percebo é a contribuição audiovisual. Sim, já sei que sou burra e que qualquer jumento comparado comigo é um doutor, mas raciocinem comigo: eu, vivendo num país democrático, escolho uma operadora de audiovisuais e faço com ela um contrato para o serviço que melhor se adapta às minhas preferências. Ora, se realmente vivo num país democrático, as minhas escolhas são soberanas e inalienáveis. Então, assim sendo, porque é que, como se de um acto de ditadura se tratasse, me obrigam a pagar outra operadora, que não escolhi e que ainda por cima oferece serviços de informação adulterada, entretenimento demagógico e (des)cultura manipulada?  Pois, pois, eu sei que sou burra, mas na verdade não consigo perceber! 

E a taxa de ocupação do subsolo, que as câmaras municipais aplicam na conta do gás? Isto então é que me mói o juízo. É um verdadeiro desafio à minha estupidez e dá asas ao meu asnear. É que eu pensava que a terra que piso e aquela que lhe está mais abaixo fizesse parte do meu legado natural por ter nascido na Terra e do meu legado biológico que me imprimiu marca de mamífero e me pôs a andar a duas, não me dotando pois nem de dentes de toupeira para esquadrinhar o subsolo nem de asinhas para não tocar na terra. 

Jamais se me ocorreu que a evolução técnica, usando a terra como meio infra-estrutural, fosse passível de taxação individual. Mas é claro que, como sou muito, muito burra, pensar que se trata de uma astuta e subtil forma de extorsão é com certeza um atentado à boa-fé e à moralidade dos municípios. 

Não posso, no entanto, nestas minhas asininas deambulações, deixar de pensar que a ocupação do espaço aéreo – segundo os municípios, é o espaço que fica por cima da cabeça dos transeuntes e dos passeios que eles usam – também é taxada! Se não acreditam perguntem aos proprietários de cafés que queiram ter um tolde de abrir e fechar… E na minha tosca burrice, não consigo parar de pensar que um dia qualquer irão fazer-me pagar pela ocupação espacial do meu volume corporal. 

Que pena tenho de ser tão burra. Se tivesse ao menos a inteligência da maioria das pessoas podia ser que conseguisse compreender. Mas como não tenho, nada mais me resta do que chafurdar nesta excrementícia porcaria e tentar vislumbrar-lhe algo de positivo!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Desabafo

Hoje, mais do que nunca, sinto a injustiça entranhada nos ossos. Brotam-me lágrimas silenciosas e, em cada uma delas, tento diluir este vulcão que me queima. Não quero coisas, quero paz!

Hoje, mais do que nunca, falta-me o que ainda não sou, faltam-me os momentos calmos, pululados de inquietações apaixonantes. Sinto-me plena de sentimentos e de encontros com a verdade, mas não me sacio. Quero ir em busca do caminho que apenas vislumbro, envolta que estou no cinzento que paira sobre o Homem.
Hoje, mais do que nunca, sinto o nó da incompreensão, sabendo contudo que basta um passo, a ação certa, para que tudo se desvaneça. Mas hoje também sei que, ainda que latente e pulsante, nada vai brotar que apazigúe esta dor imensa, minha, de todos.
Hoje, mais do que nunca, estou capaz de abraçar o silêncio e mergulhar prazenteiramente no meu interior,fazendo nele espaço para albergar o mundo inteiro.  
Hoje, mais do que nunca, sinto que as palavras, imprecisas e insuficientes, são o único bálsamo para a dor que me atormenta: não a definem, não, mas atenuam-na em milhões de possibilidades.
As palavras, as minhas palavras, não são prantos de tinta ou grafite, são estuários, são ondas que imprimem movimento ao pensamento. São bonança depois da tempestade, são brisa que não quer ser vento, são chuva miúda terna e brandamente caída em telhado de zinco. Não são livro, nem jornal, nem artigo; são apenas o espelho onde me miro e onde tento, incessantemente, reflectir-me.
Raízes, já as não tenho. Já vagueio pelo mundo à procura. Já não me vinculo à minha cidade, já me espraio por outras terras e outros mares, já não pertenço só a este pequeno cubículo do universo.
Eu, aquela que quer abraçar tudo e todos. Eu, aquela que esgaravata e tenta apartar! Eu, aquela que, quando não se entende, se sente desmoronar, mas que jamais abandona o campo de batalha, jamais desiste da busca.
Bendita essa força que me faz mover, bendita essa fome de saber, essa sede de existir, essa revolução efervescente que me queima por dentro e me amansa a revolta vã. Por vezes, só por vezes, mato a fome e a sede… outras vezes faço jejum num ramadão sem sentido, desprovido de bênçãos mas rico em anelos. Anelos de ir mais além, anelos de mergulhar na mansidão do absoluto e de pairar tranquilamente na essência, em plenitude.
Por vezes chafurdo na mesquinhez para sentir o outro lado, afundo na lama para sentir o enlevo, confronto-me com o transitório para sentir o espírito: dualidade antagónica que ora fere, ora cura!
Hoje, mais do que nunca, entrego o meu silêncio aos gritos desesperados da alma. Hoje, mais do que nunca, procuro-me e perco-me entre uma multidão de pensamentos semi-gerados, voláteis, inconsequentes e dou voltas e reviravoltas no sofrimento de todos, que é meu também…
Mas eu sei que posso confinar-me a um espaço ínfimo e sentir-me na imensidão. Sei que posso estar encerrada e sentir-me livre. Posso sentir o peso de quatro paredes e comungar com a natureza. Só não posso fingir o meu sentir… E por vezes não me sinto, não me noto, estando acordada. Outras vezes durmo, e sou eu! Umas vezes divago e esvazio-me, outras foco-me e estou plena. Persegue-me esta dualidade antagónica, mas é ela que me faz acordar, é ela que espevita o meu fogo e alimenta a sua combustão. Da dualidade nasce a escolha, não a escolha ocasional, mas a escolha matriz!
Navego sozinha, porém partilho os ensinamentos da escola do silêncio… Vou calada e volto muda, vou pobre e volto enriquecida… Cada vez que penso, cada vez que escrevo, acrescento uma jóia inestimável ao meu tesouro, que sendo já grande, e embora eu nada possua, poderá ser infinito… É esta a única riqueza que me seduz!
Hoje, mais do que nunca, não me importo que continues a pensar que sou uma imbecil...

Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas 16

O Destacamento (como serviço militar), Imposição



O Destacamento (como serviço militar)

Poucos esforços de modificação do comportamento humano são mais notáveis e mais eficazes do que o da instituição sócio-militar conhecido como destacamento. O objectivo principal de um destacamento é incutir, por intimidação, nos jovens do sexo masculino de uma sociedade a convicção pouco criteriosa de que o governo é omnipotente. Em breve lhes é ensinado que uma prece é lenta para reverter o que uma bala consegue fazer num instante. Assim, um homem treinado num meio religioso durante dezoito anos da sua vida pode, por intermédio deste instrumento do governo, ser dobrado, ser expurgado das suas fantasias e ilusões numa questão de meros meses. Uma vez aquela convicção esteja incutida, tudo o resto é fácil de incutir.

Ainda mais interessante é o processo pelo qual os pais de um jovem, que supostamente o amam, possam ser induzidos a mandá-lo para a guerra para morte certa. Se bem que a envergadura desta obra não permita que este assunto seja desenvolvido com todos os pormenores, não obstante, um resumo grosseiro será possível e poderá servir para revelar aqueles factores que têm de ser incluídos em alguma forma numérica numa análise informática dos sistemas social e de guerra.

Começamos com uma definição preliminar do destacamento.

O destacamento (serviço selectivo, etc.) é uma instituição de sacrifício e escravidão colectivos e obrigatórios, ideada pelas pessoas de meia-idade e mais velhas com ´propósito de pressionar os jovens a fazer o trabalho público sujo. Serve além disso para tornar os jovens tão culpados quanto os mais velhos, tornando assim a crítica aos mais velhos pelos jovens menos provável (Estabilizador de Gerações). É comercializado e vendido ao público sob o rótulo de serviço “patriótico=nacional”.

Uma vez seja conseguida uma definição económica objectiva do destacamento, essa definição é usada para delinear as fronteiras de uma estrutura chamada Sistema de Valor Humano, que por sua vez é traduzida em termos de teoria de jogo. O valor desse trabalhador escravo é dado numa Tabela de Valores Humanos, uma tabela dividida em categorias por intelecto, experiência, procura de emprego pós-serviço, etc.

Algumas destas categorias são usuais e podem ser tentativamente avaliadas em termos do valor de determinados empregos para os quais existe um salário conhecido. Alguns empregos são mais difíceis de avaliar porque são únicos para as exigências da subversão social, como exemplo extremo: o valor da instrução de uma mãe para a sua filha, fazendo com que a filha coloque determinadas exigências comportamentais sobre um futuro marido daí a dez ou quinze anos; reprimindo assim a resistência dele a uma perversão de um governo, tornando mais fácil para um cartel da banca comprar o Estado de Nova Iorque em, digamos, vinte anos.

Este problema apoia-se fortemente nas observações e dados da espionagem do tempo de guerra e em muitos tipos de testes psicológicos. Mas os modelos matemáticos rudimentares (algoritmos, etc.) podem ser ideados, se não para predizer, pelo menos para pré-determinar estes acontecimentos com um máximo de certeza. O que não existe por cooperação natural é portanto realçado pela compulsão calculada. Os seres humanos são máquinas, alavancas que podem ser agarradas e desandadas, e há pouca e verdadeira diferença entre automatizar uma sociedade e automatizar uma fábrica de calçado.

Estes valores derivados são variáveis. (É necessário usar uma Tabelas de Valores Humanos corrente para análise informática). Estes valores são dados na sua verdadeira medida em vez de em Dólares E.U., já que estes últimos são instáveis. Estando actualmente inflacionados para além da produção de bens e serviços nacionais para dar à economia uma falsa energia cinética (indutância do “papel”).

O valor da prata está estável, sendo possível comprar a mesma quantidade com um grama de prata hoje como se podia comprar em 1920. O valor humano medido em unidades de prata altera ligeiramente devido a mudanças na tecnologia de produção.


Imposição

Factor I 

Como em todas as abordagens do sistema social, a estabilidade só é conseguida compreendendo e explicando a natureza humana (padrões de acção/reacção). Uma falha em assim fazer pode ser, e geralmente é, desastrosa.  

Tal como noutros esquemas sociais humanos, uma forma ou outra de intimidação (ou incentivo) é essencial ao sucesso do destacamento. Os princípios físicos da acção e reacção devem ser aplicados a ambos os subsistemas, interno e externo.  

Para garantir o destacamento, a lavagem cerebral/programação do indivíduo e tanto a unidade familiar como o grupo de pares devem ser envolvidos e colocados sob controlo.


Factor II – Pai 

O homem do agregado familiar tem de ser treinado para ser dócil e complacente para garantir que o filho cresça com a formação e atitudes sociais correctas. Os meios publicitários, etc., ficam encarregues de tratar de que o futuro pai seja “fustigado com ratas” antes de casar ou na altura de o fazer. É-lhe ensinado que ou se conforma com a ranhura social entalhada para ele ou a sua vida sexual ficará entravada e a sua terna companhia será zero. Fazem-lhe ver que as mulheres exigem segurança mais do que um comportamento lógico, de princípios ou honrado.

Pela altura em que o seu filho tenha que ir para a guerra, o pai (com um carácter de geleia) atirará uma pistola para as mãos do filho antes que o pai arrisque a censura dos seus pares, ou faça de si um hipócrita ao frustrar o investimento que tem na sua própria opinião pessoal ou auto-estima. O filho irá para a guerra ou o pai ficará envergonhado. Portanto o filho irá para a guerra, não se opondo ao verdadeiro objectivo.


Factor III - Mãe

O elemento feminino da sociedade humana é governado pela emoção em primeiro lugar e pela lógica em segundo. Na batalha entre a lógica e a imaginação, a imaginação ganha sempre, a fantasia prevalece. O instinto maternal domina para que a criança venha em primeiro lugar e o futuro venha em segundo. Uma mulher com um bebé recém-nascido é demasiado ingénua para ver a carne para canhão de um homem saudável ou uma fonte barata de trabalho escravo. Uma mulher deve, contudo ser condicionada a aceitar a transição para a “realidade” quando ela chegar, ou antes disso.  

Como a transição se torna mais difícil de gerir, a unidade familiar deve ser cuidadosamente desintegrada, e a educação pública controlada pelo estado e os centros de apoio social à criança tem de ser tornados mais comuns e legalmente impostos de forma a começar a separação da criança da mãe e do pai a uma idade muito jovem. A inoculação de drogas comportamentais pode apressar a transição para a criança (obrigatório). Cuidado: A ira impulsiva de uma mulher pode sobrepor-se ao seu medo. O poder de uma mulher irada nunca deve ser subestimado e o seu poder sobre um marido “fustigado com ratas” não deve igualmente ser subestimado. Obteve o voto para as mulheres em 1920.


Factor IV - Filho 

A pressão emocional de conservação da própria vida durante o tempo de guerra e a atitude interesseira da manada comum que tem uma opção para evitar o campo de batalha – se o filho puder ser persuadido a ir – é toda a pressão finalmente necessária para impulsionar o Johnny para a guerra. As tranquilas chantagens sobre ele são as ameaças: “Sem sacrifício não há amigos; sem glória, não há namoradas”.


Factor V – Irmã 

E então a irmã do filho? São-lhe dadas todas as coisas boas da vida pelo pai, e é ensinada a esperar o mesmo do seu futuro marido independentemente do preço.


Factor VI - Gado

Aqueles que não usarem o seu cérebro não estão melhores do que aqueles que não têm cérebro, e portanto nesta escola de lorpas, pai, mãe, filho e filha tornam-se bestas de carga úteis ou treinadores delas.


Assim se conclui o que está disponível deste documento.

Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas 15

O Ventre Artificial, A Estrutura Política de uma Nação - Dependência, Acção/Agressão, Responsabilidade, Resumo, Análise do Sistema


 
O Ventre Artificial

Desde a altura em que uma pessoa deixa o ventre da sua mãe, todos os seus (do sistema) esforços são direccionados para construir, manter e retirar-se para ventres artificiais, vários géneros de dispositivos ou conchas de protecção de substituição.  

O objectivo destes ventres artificiais é proporcionar um meio estável tanto para uma actividade estável como para uma instável: proporcionar abrigo para os processos evolucionários de crescimento e maturidade – isto é, sobrevivência; proporcionar segurança para a liberdade e proporcionar protecção defensiva para a actividade ofensiva.   

Isto é igualmente verdadeiro tanto para o público em geral como para a elite. No entanto existe uma diferença definida na maneira em que cada uma destas classes trata da solução dos problemas.


A Estrutura Política de uma Nação - Dependência

A razão principal por que os cidadãos individuais de um país criam uma estrutura política é um anseio ou desejo inconsciente de perpetuar a sua própria relação de dependência da infância. Pondo a questão de um maneira simples, querem um deus humano que elimine todo o risco das suas vidas, que lhes dê palmadinhas na cabeça, que lhes dê beijinhos nos dói-dóis, que ponha uma galinha na mesa todos os dias, que vista os seus corpos, que os aconchegue na cama à noite e que lhes diga que tudo estará bem quando acordarem de manhã.  

Esta exigência pública é incrível, portanto o deus humano, o político, vai ao encontro da incredibilidade com incredibilidade prometendo o mundo e não fazendo nada. Quem é portanto o mentiroso maior? O público? Ou o “padrinho”?  

Este comportamento público é a rendição nascida do medo, da preguiça e da conveniência. É a base do estado-providência como arma estratégica, útil contra um público repugnante.


Acção/Agressão

A maior parte das pessoas quer ser capaz de subjugar e/ou matar outros seres humanos que perturbem a sua vida quotidiana, mas não querem ter de enfrentar as questões morais e religiosas que um acto tão manifesto possa levantar. Por conseguinte, atribuem o trabalho sujo a outros (incluindo aos seus próprios filhos) para manterem as mãos limpas de sangue. Ficam encantadas com o tratamento humano dos animais e depois sentam-se a comer um delicioso hambúrguer de um matadouro caiado ao fundo da rua e fora da vista. Mas ainda mais hipócritas, pagam impostos para financial uma associação profissional de assassinos contratados colectivamente chamados políticos, e depois queixam-se da corrupção no governo.


Responsabilidade

Mais uma vez, a maior parte das pessoas querem ser livres para fazer coisas (para explorar, etc.) mas têm medo de fracassar.  

O medo do fracasso manifesta-se na irresponsabilidade, e especialmente no delegar dessas responsabilidades pessoais em outras onde o sucesso é incerto ou acarreta obrigações possíveis ou criadas (lei) que a pessoa não está preparada para aceitar. Querem autoridade (radical da palavra - “autor”), mas não aceitam responsabilidade ou obrigação. Contratam portanto políticos para enfrentar a realidade por elas.


Resumo

As pessoas contratam os políticos para que as pessoas possam: 

o   obter segurança sem a gerir.
o   obter acção sem pensar nela.
o   infligir roubo, dano e morte sobre outros sem ter de pensar nem a vida nem a morte.
o   evitar responsabilidade das suas próprias intenções.
o   obter os benefícios da realidade e da ciência sem se esforçarem na disciplina de enfrentar ou aprender qualquer destas duas coisas. 

Dão aos políticos o poder de criar e gerir uma máquina de guerra: 

o   tratar da sobrevivência da nação/ventre.
o   impedir o avanço de qualquer coisa sobre a nação/ventre.
o   destruir o inimigo que ameaça a nação/ventre.
o   destruir aqueles cidadãos do seu próprio país que não se conformam para salvar a estabilidade da nação/ventre.  

Os políticos detêm muitos empregos praticamente militares, sendo os inferiores a polícia que são soldados, os procuradores e os C.P.A. (contabilistas públicos certificados) ao lado dos quais estão espiões e sabotadores (licenciados), e os juízes que berram ordens e que dirigem a associação fechada da loja militar para o que quer que o mercado tolere. Os generais são os industriais. O nível “presidencial” do comandante supremo é partilhado pelos banqueiros internacionais. As pessoas sabem que criaram esta farsa e que a financiaram com os seus próprios impostos (consentimento), mas preferem submeter-se do que ser hipócritas.   

Assim, uma nação fica dividida em duas partes muito distintas, uma sub-nação dócil (a grande maioria silenciosa) e uma sub-nação política. A sub-nação política permanece ligada à sub-nação dócil, tolera-a, e filtra a sua substância até que esta se fortaleça o suficiente para se separar e então devorar o seu progenitor.


Análise do Sistema

Para tomar decisões económicas informatizadas significativas acerca da guerra, o principal volante económico, é necessário atribuir valores logísticos concretos a cada elemento da estrutura de guerra – tanto de pessoal como de material.

Este processo começa com uma descrição clara e objectiva dos subsistemas dessa estrutura.

Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas 14

Consentimento a Vitória Primordial, Amplificação das Fontes de Energia, Logística



Consentimento, a Vitória Primordial

Um sistema de armas silenciosas opera a partir de dados obtidos de um público dócil por força legal (mas nem sempre legítima). Muita da informação é disponibilizada aos programadores dos sistemas de armas silenciosas através do Internal Revenue Service[1] (IRS).  

Esta informação consiste na entrega obrigatória de dados bem organizados contidos nos formulários dos impostos federais e estatais, coligidos, reunidos, e submetidos pelo trabalho escravo proporcionado pelos contribuintes e pelos empregadores.  

Além disso, o número desses formulários submetidos ao I.R.S. é um indicador útil do consentimento do público, um factor importante na tomada de decisões estratégicas. São dadas outras fontes de dados na Pré-selecção de Recursos.   

Coeficientes de Consentimento – feedback numérico que indica o estado da vitória. Base psicológica: quando o governo é capaz de cobrar impostos e confiscar propriedade privada sem justa compensação, é uma indicação de que o público está pronto para a rendição e consente a escravização e a usurpação legal. Um indicar bom e facilmente quantificado do tempo de colheita é o número de cidadãos que pagam o imposto sobre o rendimento apesar da falta óbvia de um serviço recíproco ou honesto do governo.


Amplificação das Fontes de Energia

O próximo passo no processo de concepção de um amplificador económico é descobrir as fontes de energia. As fontes de energia que suportam qualquer sistema económico primitivo são, claro, um fornecimento de matérias-primas, e o consentimento das pessoas ao trabalho e consequentemente a assumirem um determinado posto, posição, nível ou classe na estrutura social, isto é, proporcionar trabalho a vários níveis na ordem hierárquica.  

Cada classe, ao garantir o seu próprio nível de rendimento, controla a classe imediatamente abaixo dela, preserva por isso a estrutura da classe. Isto proporciona estabilidade e segurança, mas também um governo a partir do topo.  

À medida que o tempo passa e a comunicação e a educação melhoram, os elementos da classe inferior da estrutura social de trabalho ficam bem informados e invejosos das coisas boas que os membros da classe superior têm. Começam também a obter um conhecimento dos sistemas de energia e a capacidade de impor a sua ascensão através da estrutura da classe.  

Isto ameaça a soberania da elite.  

Se esta ascensão das classes inferiores puder ser suficientemente postergada, a elite pode conseguir o domínio da energia, e o trabalho por consentimento já não deterá uma posição de fonte de energia essencial.   

Até que este domínio energético esteja absolutamente estabelecido, o consentimento das pessoas em trabalhar e deixar os outros tratar dos seus assuntos deve ser tomado em consideração, já que deixar de o fazer poderia fazer com que as pessoas interferissem na transferência final das fontes de energia para o controlo da elite.  

É essencial reconhecer que nesta altura o consentimento público continua a ser uma chave essencial para a libertação de energia no processo da amplificação económica.

Por conseguinte, o consentimento como mecanismo de libertação de energia será agora considerado.


Logística

A aplicação bem-sucedida de uma estratégia requer um estudo cuidadoso de recursos, de resultados, ligando a estratégia os recursos e os resultados, e as fontes de energia disponíveis para abastecer a estratégia. Este estudo chama-se logística.  

Um problema logístico é primeiro estudado ao nível elementar, e depois são estudados níveis de maior complexidade como síntese dos factores elementares.  

Isto significa que um determinado sistema é analisado, isto é, decomposto nos seus subsistemas, e estes por sua vez são analisados, até que por este processo, se chegue ao “átomo” logístico, o indivíduo.  

É aqui que o processo de síntese começa propriamente, na altura do nascimento do indivíduo.


[1] Para uma lista de fontes do I.R.S. ver Studies in the Structure of the American Economy.

Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas 13

Pré-selecção de Resultados, Tabela de Estratégias, Diversão a estratégia Primordial, Resumo das Diversões



Pré-selecção de Resultados

Resultados – criar situações controladas – manipulação da economia, e por isso da sociedade – controlo da compensação e do rendimento. 

Sequência: 

1.      atribui oportunidades.
2.      destrói oportunidades.
3.      controla o meio económico.
4.      controla a disponibilidade de matérias-primas.
5.      controla o capital.
6.      controla as taxas de juro.
7.      controla a inflação da moeda.
8.      controla a posse de bens.
9.      controla a capacidade industrial.
10.  controla o fabrico.
11.  controla a disponibilidade de bens (bens essenciais).
12.  controla os preços dos bens essenciais.
13.  controla os serviços, a mão-de-obra, etc.
14.  controla os pagamentos aos funcionários públicos
15.  controla as funções legais.
16.  controla os ficheiros de informação pessoal – incorrigível pela parte difamada.
17.  controla a publicidade.
18.  controla o contacto com os meios de comunicação.
19.  controla o material disponível para visualização na TV.
20.  desprende a atenção dos verdadeiros problemas.
21.  atrai as emoções.
22.  cria desordem, caos e demência.
23.  controla a concepção de formulários de impostos mais interrogativos.
24.  controla a vigilância.
25.  controla o armazenamento de informação.
26.  desenvolve análises psicológicas e perfis de indivíduos.
27.  controla as funções legais [repetição do 15]
28.  controla os factores sociológicos.
29.  controla as alternativas da saúde.
30.  aproveita-se das fraquezas.
31.  mutila as forças.
32.  filtra a riqueza e a posse.

Tabela de Estratégias

Fazer isto:                                                      Para obter isto 

Manter o público ignorante                           Menos organização pública  

Manter acesso a pontos de controlo              A reacção necessária aos outputs (preços,    
para ter feedback                                           vendas) 

Criar preocupação                                         Baixar defesas  

Atacar a unidade familiar                             Controlo da educação do jovem  

Dar menos liquidez e mais                           Mais autocomplacência e mais dados
crédito e subsídios  

Atacar a privacidade da igreja                     Destruir a fé neste género de governo  

Conformismo social                                    Simplicidade de programação de computadores   

Minimizar o protesto contra impostos        O máximo de dados económicos, o mínimo de problemas de cumprimento 

Estabilizar o consentimento                        Coeficientes de simplicidade  

Apertar o controlo de variáveis                  Introdução de dados informáticos mais simples – maior  previsibilidade  

Estabelecer condições limite                      Simplicidade do problema / soluções de equações de diferencial e diferença  

Sentido de oportunidade adequado            Menos transferência e imprecisão de dados  

Maximizar o controlo                                 Resistência mínima ao controlo  

Queda da moeda                                         Destruir a fé entre si do povo americano.


Diversão, a Estratégia Primordial

A experiência mostrou que o método mais simples de garantir uma arma silenciosa e conseguir o controlo do público é manter o público indisciplinado e desconhecedor dos princípios básicos do sistema por um lado, enquanto se mantém confuso, desorganizado e distraído com assuntos que não têm importância real por outro lado.  

Isto consegue-se:  

o   desengatando a sua mente, sabotando a sua actividade mental, proporcionando um programa de educação de baixa qualidade em matemática, lógica, concepção de sistemas e economia, e desencorajando a criatividade técnica;  

o   entretendo as suas emoções, aumentando a sua autocomplacência e a sua entrega a actividades emocionais e físicas:  

·         tornando as afrontas e os ataques emocionais mais impiedosos (violação mental e emocional) por meio de uma onda constante de sexo, violência e guerras nos meios de comunicação – especialmente a TV e os jornais;
·         dando-lhe o que deseja – em excesso – “junk food” para o pensamento – e privando-o do que realmente precisam;  

o   reescrevendo a história e a lei e submetendo o público à criação desviante, sendo assim capaz de transferir o seu pensamento das necessidades pessoais par prioridades externas extremamente forjadas.   

Isto acaba com o seu interesse nas armas silenciosas da tecnologia de automatização social e evita a sua descoberta.  

A regra geral é que há lucro na confusão; quanto mais confusão, mais lucro. Por conseguinte, a melhor abordagem é criar problemas e depois oferecer soluções.


Resumo de Diversões

Meios de comunicação: manter a atenção do público adulto afastada dos verdadeiros problemas sociais, e cativada por assuntos sem importância real.  

Escolas: manter o público jovem desconhecedor da verdadeira matemática, da verdadeira economia, da verdadeira lei e da verdadeira história.  

Entretenimento: manter o entretenimento público abaixo do nível do sexto ano.  

Trabalho: manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem tempo para pensar; de volta à quinta com os outros animais.
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