quarta-feira, 11 de julho de 2018

Respeito, por onde andas?





Marca-se uma consulta para o dia tal às tantas horas. Pouco importa se é uma consulta médica, dentária, de advocacia, ou de qualquer outra coisa. Pouco importa se é do estado ou do privado. O respeito, ou melhor, a falta dele, é transversal e recorrente. À hora marcada, a besta apresenta-se no consultório. Senta-se e espera. A hora marcada passa e a besta espera e espera e espera. A impaciência infiltra-se em cada célula, mas a besta aguenta e espera. Espera meia-hora, uma hora, hora e meia, duas horas. A besta é mansa e ainda que borbulhe por dentro, espera. Quando finalmente o consultor chama a besta, a impaciência desaparece quase por milagre, dando lugar a um quase adulador e submisso “Sim, Sr. Doutor”.

As horas de espera impediram a besta de realizar outros afazeres, de estar com os seus, de mil e uma coisas a que tem pleno direito. O consultor, por sua vez, manteve a besta à espera porque, sei lá eu por que carga de água, se convenceu de que o seu tempo é muito mais importante do que o tempo da besta e que, por conseguinte, não há qualquer problema em fazer-se esperar. Se este convencimento advém de egos inflados, de ganâncias desmedidas ou de uma gestão deficiente do tempo, a questão fundamental permanece: é uma grandessíssima falta de respeito pelos outros! E é uma grandessíssima falta de educação!

Se a besta deixasse de ser besta e passados, digamos, uns tolerantes quinze minutos de espera debandasse porta fora e deixasse tempo vago não remunerado ao pretensioso consultor, talvez a besta deixasse de o ser e o consultor se apercebesse que estava a ser uma. Mas, infelizmente, neste país insignificante e ridículo nada muda: as bestas continuam mansas e os pretensiosos continuam a agir como bestas!


terça-feira, 10 de julho de 2018

O estranho caso do gato na cabeça do professor





Noticiar isto é, só por si, algo ridículo. Num mundo repleto de horrores, catástrofes, desgraças, injustiças e aviltamentos a todos os níveis, esta cena do quotidiano parece querer preencher o enorme buraco que a insensibilidade e a insensatez humanas cavam cada vez mais profundamente.

Ora, verdadeiramente ridículo é, na minha modesta opinião, considerar este acontecimento insólito e surpreendente. Insólito e surpreendente será, sim, o facto de as pessoas se espantarem de forma tão avoada com uma cena quotidiana perfeitamente natural e não se espantarem com as realidades ilusórias encenadas a que assistem, diariamente, nos meios de comunicação social.

Os tontos deste mundo aceitam com uma ingenuidade deprimente e sem ponta de assombro os “factos” distorcidos de uma guerra como a da Síria (que parece já ter passado de moda, embora se continue ali a exterminar seres humanos sem qualquer pejo ou escrúpulo) e as “encenações” de actos terroristas, um “envenenamento” fabricado para benefício de tramas de espionagem internacional e até as decisões dementes de uma criança grande chamada Trump. Aceitam, sem um pingo de espanto ou de indignação, ser manipulados por clubes de futebol e as suas “novelas” e por partidos políticos e as suas sempre “justificadas” corrupções. Aceitam cegamente e com franca naturalidade o condicionamento diário do “teatro” da publicidade: “Beba com moderação, mas compre X, Y ou Z porque é a bebida da moda!”, “Não fume, mas coma comida processada, enfrasque-se de medicamentos e sobretudo faça um seguro de saúde!”. Nada disto lhes causa assombro, mas um gato a ronronar nos ombros do dono deixa-os completamente pasmados!

Pobres néscios! Vivem na realidade ilusória que o sistema tão cuidadosa e carinhosamente cria para eles e quando a vida real os confronta, um gato e o seu dono são coisa do outro mundo!


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