sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sem pressa nenhuma

Dedicado ao Lourenço, e ele sabe bem porquê!


Não, não.
Não me venham com pressas que eu não tenho nenhuma.
Nasci sem pressa, disse-mo a minha mãe,
E cresci sem pressa, lembro-me eu bem.

Mas depois tive alguma,
Quando corpo e mente despertaram para a vida,
Quando a ânsia inocente de saber, o frenesim de descobrir, de viver,
Eram doida correria.
Aí sim, que pressa eu tinha, que veloz passava o dia!
E ainda assim pensava que o futuro não chegava
Com a rapidez que eu queria.

Anos e anos de pressa,
Uma corrida tonta em direcção a uma meta inexistente,
Pois não é o futuro a corrente
Da vida nascida agora, sem pressa, no presente?
Mas a mente, que pensa que pensa, não pensa afinal,
E, contra-natura, cega, dormente, teima em seguir um curso trivial
Não bebendo da frescura, da novidade, da força do manancial.

A vida que nasce rica e pura, e cujo atento fluir
A cada mínimo passo, mais rica e madura e sábia a faria,
Só é lembrada quando, já impura e conspurcada
Por haver trilhado ao azar um caminho por de mais palmilhado,
Que não era seu, que nunca foi novo nem principiado,
Sente infinita saudade do momento pujante em que nasceu.

É pois, sem pressa,
Depois de percorrida bem mais de meia vida,
Que placidamente me demoro na nascente.
Dela retiro lenta mas firmemente
Toda e qualquer impureza que a possa corromper.
Sem pressa, sem jamais correr,
Cada vez mais me aconchego e me entrego
A este doce e pausado viver.

Não, não.
Não me venham com pressas que não tenho nenhuma.
Nasci sem pressa, disse-mo a minha mãe
E vivo sem pressa, que cuidando da nascente, sem me mexer vou mais além.
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