quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Reflectindo sobre os trogloditas ou a excepção que confirma a regra


Troglodyte Rockabilly de Olaf del Gaizo

Algo de verdadeiramente sério se passa com o ser humano. Não evolui. A mentalidade actual continua ao nível do mais básico troglodita. Sofisticado sem dúvida, mas ainda assim troglodita. O respeito e a educação não existem. Ou melhor, estão em vias de extinção. Chega a ser deprimente a forma displicente e sobranceira com que o indivíduo actual trata o seu semelhante. E este comportamento está patente em todas as idades, em todas as áreas e em todas as chamadas “classes sociais”.



De pequenino se torce o pepino... Excelente futuro espécimen "humano"...


As crianças e os adolescentes de hoje são levados a pensar, pela deficiente educação que recebem dos pais e da sociedade, que são superiores a toda a gente, que são mais espertos que toda a gente, que têm mais direitos que toda a gente e menos deveres que toda a gente. É por isso extremamente comum ver, em público, birras, respostas mal-educadas, atitudes de insolência, comportamentos violentos, etc..



Como em tudo, o poder do forte sobre o mais fraco...


Por sua vez, o indivíduo médio, o tal que não sabe educar a sua prole, reserva a sua pouca educação e o seu pouco respeito para coisa pouca. Defende, por exemplo, com unhas e dentes, nacionalismos idiotas, tais como a suposta grande ofensa a um idolozito do futebol. Ou defende acerrimamente, com doentio patriotismo, uma bandeira mais que enxovalhada pelos políticos que, curiosamente, apoia e em quem, curiosamente, vota. Completamente embotado, casca de noz à deriva no oceano dos altos interesses políticos, tão estupidificado está que venera hoje quem ontem demonizava, ouve atentamente hoje quem ontem raivosamente vaiava. O indivíduo médio é um tosco robot totalmente programado para ser bruto, ignorante, mal-educado. Para ser respeitoso apenas para com aquilo que o mantém adormecido: futebol, o 25 de Abril, e um patriotismo mofento, esbotenado, que se mantém de pé apenas com o alicerce da memória de “heróicos feitos” passados. Fora isto, nada. A asinina mentalidade que o caracteriza não é suficiente para se aperceber do seu tão humilhante quão jocoso papel de peão no tabuleiro das dementes atrocidades da cúpula do poder. Pau-mandado, berra e gesticula nas manifestações, e nem se apercebe que a sua “indignação” é arma do inimigo. Imbuído de um espírito de luta, faz greves e repete slogans tão gastos e puídos quanto a infrutífera espera de resultados. Asnalmente prejudica os semelhantes mas, pateta, afirma, ufano, que luta por todos nós. Ah, que estúpida ingenuidade, que ignorância estupidificante, que mansa bestialidade…



Sem medo? Sem consciência 
... e sem cérebro!




























Mais chocante, contudo, é a atitude do indivíduo dito “educado”, “instruído”, “erudito”. Esse indivíduo, munido do seu título, sai do sistema de ensino totalmente condicionado. Daí que cometa, logo de início, três erros crassos. O primeiro é pensar-se livre. O segundo é achar que toda a informação que obteve o coloca num patamar distinto e mais elevado do que o seu semelhante. E o terceiro é crer-se detentor da verdade. Nada mais errado. Estes indivíduos são tão autómatos quanto o indivíduo comum. Servem o objectivo do sistema na perfeição, seja qual for a área em que sirvam. Na política, trajados de importância e portadores da aura do poder, crêem-se intocáveis, mas não passam de yes men do chefão que se oculta na segurança do quase anonimato. Na área da ciência, por exemplo, seguem o método científico com a devoção dos beatos. A cegueira é tanta que o que não pode ser provado por aquele método, para eles, pura simplesmente, não existe, mesmo que esteja nesse momento a morder-lhe a ponta do nariz. Também, tal como o indivíduo médio, desconhecem o significado de respeito, e a atitude que dos poros lhes transpira é a arrogância da pretensa irrefutabilidade das palavras que proferem como doutrina. Assim agem os “cultos”, os “letrados”, os “intelectuais”, os “artistas”. Não há, nesses indivíduos, lugar nem para a humildade, nem para o respeito. Tal como não têm lugar para o autoquestionamento, para a auto-exploração. São terra estéril em que a semente, semimorta e des-almada, nunca poderá ser excepção de regra.


"A sabedoria não entra numa mente maldosa, e a ciência
sem consciência não é senão a ruína da alma" - François Rabelais

Perguntará o leitor: mas, e então, quem é que resta que se aproveite? E eu respondo-lhe: restam os tolos. Os loucos, se quiser. As excepções, pouquíssimas, que confirmam a regra que se julga excepção. Os insensatos cujo sonho jamais se deixa limitar porque não vislumbram fins na existência. Os insanos que mergulham nas profundidades do seu próprio ser e vislumbram as leis do universo que nenhuma equação consegue explicitar. Os simples que viajam em silêncio na consciência eterna, que cavalgam para além das fronteiras impostas pelos cegos. Aqueles poucos que transpõem com o espírito os obstáculos que os “sãos” afirmam intransponíveis. É isso mesmo, só os loucos se aproveitam…


"Montanha Mística" na Nebulosa Eta Carinae

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