segunda-feira, 16 de maio de 2011

A corja, os pacóvios e os outros

Estou farta! É que já não se aguenta tanta estupidez, tanta mediocridade! Parece que a corja conseguiu finalmente embebedar-se ad eternum com o tão apreciado cocktail do poder. De sangue alcoolizado portanto, ei-la que fala e gesticula histericamente, nos olhos com aquele brilho endiabrado de quem quer meter no corpo dos outros os demónios que lhe habitam a alma. E os papalvos, demagogizados e embrutecidos, a quem a corja sempre faz acreditar que a ignorância e a passividade mental são virtudes que jamais se devem deixar de cultivar, ouvem-na extasiados enquanto uma lorpa admiração lhes ruboriza a face e um desejo calado e estupidamente nutrido de um dia virem a ser “assim importantes” lhes provoca um calafrio espinhela acima, espinhela abaixo. 

Com papas e bolos se enganam os tolos, e portanto é ver a corja com falinhas mansas e mentiras minuciosamente maquilhadas, com promessas cinicamente feitas que nascem e morrem no momento em são pronunciadas, com sorrisos de cordeiro e urdiduras sórdidas na mente, com festas e foguetes, com marchas e banquetes, por fora com aparente compaixão e por dentro com o desprezo surdo, muito a custo silenciado, de quem se julga ser humano de primeiro escolha.
A corja aprendeu, não a fazer política mas a persuadir, a enganar; a corja aprendeu a falar, não para comunicar melhor mas para tergiversar a mensagem; aprendeu linguagem gestual, linguagem corporal, não para melhor se fazer entender mas para mais facilmente ocultar o verdadeiro sentido das intenções; aprendeu a discursar, não para se assegurar que a transmissão chega íntegra ao receptor mas para manipular audiências; a corja cuida da imagem, não só para agradar, para seduzir, mas sobretudo para enganar, para ocultar o lobo sob uma pele do cordeiro.
Hipnotizados pelo carisma, (que é forjado), e pela capacidade de liderança, (que está única e exclusivamente direccionada para interesses próprios), e que a corja faz questão de demonstrar a toda a hora, os pacóvios, sem lhe perceberem a intenção oculta, e movidos por acessos de patriotismo, que também podiam ser de febre ou até de raiva e o significado seria igualmente oco e desinteressante, estimulados pela voz estrategicamente colocada do líder, acenam e gritam e anuem; e exclamam aos quatro ventos que unidos jamais serão vencidos enquanto, sem que se dêem conta, mansos e iludidos, são apascentados com a mesma facilidade com que o pastor conduz o seu rebanho.
E a corja grita: façamos sacrifícios e salvemos o país! E o pacóvio, incapaz que é de pensar, castrada que está a sua individualidade, de tão desorientada e confusa que está a sua mente, de tão cheios que tem, cabeça e coração, de esperanças vãs, de ideologias inconsistentes, de crenças ilógicas cuidadosa e subtilmente alimentadas pela corja, deixa-se ofuscar por um simples vislumbre de mudança, por um falso indício de melhoria, e aplaude e berra “apoiado” e segue a corja. Pobre pacóvio, estende-se ao comprido na cama de palha que lhe fizeram acreditando que em breve estará entre lençóis de linho repousando tranquilo nos braços de Morfeu!
Que se ofenda a corja pelo destrato que aqui lhes faço – corja de vilões, de depravados, desnutridos de princípios, humanos desnaturados, hipócritas malabaristas, manipuladores sem escrúpulos, secos de alma e coração.
E que se ofendam os papalvos com o retrato que lhes faço – simplórios ignorantes que nem à força de darem com a cabeça na parede uma e outra vez, e outra e mais outra e ainda outra, conseguem sair da lorpice e usar a massa encefálica que lhes foi provista de uma maneira menos básica, menos primitiva, menos estúpida.
Tem limites a credulidade. Tem limites a estupidez. Do mesmo modo têm limites o roubo, a corrupção, o ludíbrio; e também têm limites a sujeição, a dependência, o seguimento cego e a ignorância.
E não permitir que se excedam estes limites é a urgente e inadiável tarefa que cabe aos outros, aqueles que não são nem corja nem papalvos. Desenganem-se, porém, se pensam que são melhores que eles. Não são. São infinitamente piores. Piores porque têm consciência das coisas, porque sabem até à exaustão o que está mal e nada fazem para que a sociedade seja diferente. Estão imbuídos de um medo parvo, um medo que os faz caminhar enfileirados pelo mesmo trilho, de uma covardia que lhes cristaliza o pensamento, a palavra e a acção.
Aquiescem para que os não incomodem, imitam para que se não lhes aponte o dedo, entram no jogo para que não os marginalizem, vivem num contínuo faz-de-conta para se sentirem seguros, para “serem como os outros”. Engrossam assim o egoismo, alimentam a futilidade, mergulham em mil e uma coisas disparatadas, inúteis, e recusam-se a pensar, a falar, a agir individualmente.

Estou farta e não vou viver em ponto morto. Estou farta da corja e farta dos papalvos e estou até farta de ti, que não és nem corja nem pacóvio; és antes uma apatia amorfa, descaracterizada, um potencial em estado vegetativo, um ser descolorido com tantos matizes na mente quantos os medos que tens.

Estou farta...

2 comentários:

  1. Plenamente de acordo.
    E o que pretende fazer?

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  2. Já fiz. Saí da manada.
    E, surpreendentemente... tudo se pode quando se pode passar sem tudo! :)

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