segunda-feira, 23 de maio de 2011

Descubra a diferença

É assim com as crianças. As crianças formam grupinhos com aquelas de que mais gostam e depois organizam brincadeiras e estão sempre atentas aos grupinhos rivais. Zangam-se de vez em quando, ora porque fulano já tem o cromo difícil, ora porque beltrano conseguiu o último jogo para a PS3, ou porque algum deles fez batota ou ainda porque a rapariguita de olhos azuis gosta mais do Pedro do que do José. Saltam como que impulsionados por potentes molas à mais mínima provocação e retaliam, cada vez com mais imaginação, até que os adultos, cansados talvez de tanta algazarra, põem fim à brincadeira e as chamam ao dever, às obrigações.

Ora se este comportamento, tão natural nas crianças, faz parte do seu percurso de aprendizagem, sendo portanto, até certo ponto, tolerado, não o é de todo se tido pelos mais velhos. Não é aceitável nos adolescentes, nos jovens. E muito menos o é nos adultos!
Mas o que na realidade acontece é que existem, mormente na classe política, um bando de criançolas com aquele comportamento. Adultos imberbes, disfuncionais. Parecem doidos varridos com cérebros de alfinete. E nem sequer se dão ao trabalho de manter uma certa integridade, uma certa postura, de “parecerem crescidos”, quanto mais não seja para ocultar as suas vis naturezas.
Tal qual como crianças, atiram pedras uns aos outros, chamam-se nomes feios, amuam e congeminam vinganças. Como elas, funcionam na base do “fizeste-me isto, vou fazer-te aquilo”. Inventam mentiras, dizem que “foi ele que disse” e que “foi ele que fez” quando apanhados em flagrante. Como crianças. Todos eles querem ser o primeiro, mas esquecem-se, por burrice ou imaturidade, que primeiro só pode haver um, e portanto coleccionam frustrações e tornam-se peritos em não dar pontos sem nó.
Tal como as crianças, os criançolas esquecem os objectivos primeiros da brincadeira, e tão depressa estão a brincar aos índios e aos cowboys segundo as regras do jogo, como se deixam arrebatar pelo entusiasmo e em vez de fazer pontaria aos índios começam a disparar setas em todas as direcções, não importando quem atingem, acertando nos companheiros de armas, fazendo tombar civis inocentes, só pelo gosto de disparar.
Às crianças, quando pressentem que pode acabar mal, os adultos acabam-lhes com a brincadeira, admoestam-nas e incentivam-nas a brincar a algo mais instrutivo. Mas a estes criançolas, quem os pára? Quem é que lhes diz que o objectivo da brincadeira não é a autossatisfação, não é a megalomania, a obstinação, qual mula estancada, do “é isto que eu quero e não saio daqui sem o conseguir”? Quem é que põe cobro a este jogo de interesses e põe de castigo os criançolas, de cabeça virada para a parede e enfiadas as orelhas de burro? Quem é que lhes faz saber que a luta é outra? Que é uma luta de sobrevivência, uma luta de mudança? Que mais que colmatar a fome e garantir o básico, é preciso alimentar a mente, engorda-la em qualidade? Que mais do que conseguir uma maioria absoluta, se trata de conseguir que não haja minorias de influência antinatural e perniciosa?
Parece que não há, neste país, nem pais nem educadores capazes para meter na linha criançolas tão mal-educados!
Tão semelhante o comportamento dos criançolas ao das crianças! Mas existe uma diferença nuclear e colossal. Sabe qual é? Consegue descobri-la?

Pois é, é essa toda. É a diferença que existe entre a inocência e a premeditação, entre a pureza de sentimentos e o lodo dos interesses próprios, entre a sinceridade pueril e a sedução estudada, entre a naturalidade e a sofisticação, entre a verdade e a deturpação, entre o espontâneo e o deliberado, entre deus e o diabo!

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