quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Reflexão III

Vejo toda a gente preocupada! Preocupada com dinheiro! Vejo muita gente preocupada porque não vai poder manter o nível de vida! Mas, que raio é isso do nível de vida?
As necessidades básicas do ser humano são bem poucas. Tão poucas que se tivéssemos verdadeira consciência delas, só esse facto seria o suficiente para mudar o mundo! Mas não, não é isso que acontece. O que realmente nos preocupa são as férias que não vamos poder fazer, as viagens que não vão passar de sonhos, os modelitos que não vamos poder comprar, o carro que não vamos poder trocar, o ginásio que não vamos poder frequentar ... Quanta tolice! Quanta imaturidade!
Onde quer que vamos, para onde quer que olhemos, o mundo é um imenso poço de egoísmo, de irracionalidade, de violência, de violação e perversão do viver natural e criativo.
Basta ver as notícias na TV ou ler um jornal ou uma revista e tudo o que se destaca é anti-natural, é uma agressão constante à vida no seu mais amplo e lato sentido! As armas materializam a violência e os instintos mais primitivos do homem; o ludíbrio, a mentira e a corrupção são cada vez mais considerados como necessários e até como legítimos para a sobrevivência nesta Terra caótica! Enquanto milhares morrem de fome a cada segundo que passa, a grande maioria das pessoas dedica-se ao consumismo exacerbado e ao culto de uma vida fútil recheada de coisas e atitudes que são um verdadeiro atentado à condição humana! Até as crianças são educadas para acreditar que a competição, a luta, a conquista, são nobres virtudes a cultivar cegamente!
E esta imensa desordem, este caos crescente, chega por vezes a atingir o apogeu do ridículo com requintes de crueldade e de indiferença: enquanto uns morrem de fome, outros participam em concursos para ver quem come mais empadas ou mais hambúrgueres e consegue entrar para o Guiness. Ou então deliciam-se em requintadas orgias gourmet. Enquanto uns dormem na rua, num qualquer miserável e sujo rincão, com cama de papelão e mantas de jornais, outros, de nariz empinado e atitudes cabotinas, fazem questão de alardear a sua superioridade só porque vivem em luxuosos condomínios fechados!
Socialmente, as convulsões fazem-se sentir cada vez mais e é cada vez maior o fosso entre aqueles que tudo têm e aqueles que mal conseguem sobreviver; economicamente, os ricos são cada vez mais ricos e os pobres aumentam de número em todos os cantos do mundo; politicamente, os lobbies, a corrupção e os interesses de uma pequena minoria avançam, implacáveis e imparáveis, sobre um mundo cego, sobre um mundo amedrontado, ignorante e todavia crédulo na poderosa e destrutiva máquina política!
E no dia-a-dia, sujeito a toda esta pressão, vergado sob o peso esmagador de uma estrutura social, política e económica perigosamente doentia e degradante, o homem vai ficando reduzido a um ser amorfo de actividade programada e controlada.
Queremos viver num mundo assim? Queremos ser autómatos, marionetes cujos fios são inexoravelmente controlados por mãos alheias? Ou queremos olhar à nossa volta, olhar para dentro de nós e tomar verdadeira consciência da vida no seu todo?

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