terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Bestialidades




Olhei para o parque de estacionamento. O usual. Lugares normais, uma boa dúzia deles, e dois lugares para aqueles considerados deficientes. Começaram a chegar. A primeira besta que apareceu, montada num belo carro, achou por bem estacionar por cima da linha divisória. Uma ocupação menor do que dois lugares seria inconcebível para egos que se espelham em veículos automóveis e smart phones. A segunda besta chegou, também num bom carro, acelerado e com pressa, tal como convém a quem se tem por importante. Estacionou na diagonal, ocupando dois lugares. Saiu à pressa do carro, boné com a pala para trás, calças a escorregar pelas nádegas abaixo. A terceira e a quarta bestas, muito, muito deficientes a nível neuronal, estacionaram placidamente, nos lugares destinados aos deficientes motores, os seus BMW e Mercedes respectivamente. A quinta e última besta (não tive paciência nem estômago para continuar a minha curiosa observação) entra no parque em contra-mão. Procurando um lugar que tardava em encontrar, continuou pelo parque fora sempre no sentido contrário das setas pintadas no chão. 

Esta bestialidade será só epíteto dos lusos ou estender-se-á por esse mundo fora?





4 comentários:

  1. Olá Isabel,
    respondendo a sua pergunta posso assegurar-lhe que aqui no Brasil é bem isso o que acontece, também!
    Beijos,
    Sônia

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    1. Pois é, caríssima Sônia, parece que, infelizmente, um descomunal manto de egoísmo cobriu o mundo inteiro. Perderam-se os valores, os princípios, o amor ao próximo. Temo que a humanidade caminhe a passos largos para uma situação sem retorno.
      Beijinhos minha amiga!
      Isabel

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  2. São bestialidades mas não somente lusas. Depois de muitos anos de ditadura foi-nos dada a beber toda a liberdade de uma só vez... e isso produziu este efeito, não nos tendo matado (como mataria alguém que tivesse estado muito tempo sem beber e quisesse saciar a sede de uma só vez), mas adoeceu-nos. Tornámo-nos egocêntricos – parece que nada mais conta a não ser o indivíduo e não o conjunto de indivíduos. Ao contrário dos países do norte da europa deixamos de ter regras ou compromissos fosse com o que fosse – não existe o velho ditado “A nossa liberdade começa onde termina a dos outros.” Senão veja-se a título de outro exemplo que espelha a bestialidade a que chegámos: ainda me lembro que na minha infância e ainda até na adolescência se existia alguém que de repente necessitava de aliviar a bexiga (nomeadamente do sexo masculino), e à falta de cafés ou outros locais onde o poder fazer, procurava encontrar um lugar escondido de qualquer transeunte para o poder fazer – agora, à frente de qualquer um, encontramos novos e idosos a fazerem-no e temos que ser nós (os transeuntes) a desviar o olhar com vergonha do espetáculo degradante a que podemos assistir. O nosso país desenvolveu-se felizmente muito em quase tudo, mas tentou saciar a sede de liberdade de uma forma tão abrupta e sem rumo que perdeu a educação cívica – essa desapareceu e é transversal a toda a nossa sociedade. Os que sobram sentem-se “alienígenas” ou “outsiders”. Resta-nos respirar bem fundo e ir desabafando de vez em quando. Bj Amiga

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    1. Quanta razão tens, amiga! E ainda bem que sobramos nós, os/as "alienígenas". Somos poucos mas esforçamo-nos continuamente por lançar em nosso redor a semente da humanidade e mantemos viva a esperança que esta germine!
      Beijinhos, querida amiga.

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