quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A FIB em lugar do PIB


“Deveríamos começar a medir a felicidade das pessoas” começou ele, “tal como faz o Butão”. “Em vez do PIB, eles usam o GNH, Gross National Hapiness”. É típico do meu irmão surpreender-me assim. Frases curtas, incisivas, insusceptíveis de criar dúvidas quanto à sua factualidade. Sempre pronunciadas com o mesmo tom de voz sereno e sério com que diria um “Até amanhã. Se precisares de alguma coisa diz”. Costumam despertar em mim um desejo imenso de descoberta que logo tento aplacar com pesquisa e investigação. No silêncio das pesquisas a que constantemente me incita, jamais deixo de pensar que esse trio de virtudes que o caracteriza - falar pouco, pensar muito e instruir-se no que é verdadeiramente nuclear - é uma requintada arte que poucos conseguem dominar. 

Felicidade Interna Bruta… O conceito, a priori, parece desfasado da realidade. Parece adentrar-se no mais difícil dos reinos do ser humano, o imaterial. Também faz disparar os neurotransmissores, mas sobretudo despoleta sentimentos e emoções, e estimula, inegavelmente, a corrida ao armário dos desejos e à arca dos caprichos.

Se se não fizer a devida destrinça entre a felicidade com motivo e a felicidade sem motivo, entre a felicidade tangível e a intangível, entre a que carece de objecto para poder existir e aquela que existe independentemente de qualquer objecto, então passar-se-á a vida inteira numa triste e vã caça aos gambozinos. Mas se houver discernimento, se existir um equilíbrio, que só pode ser iniciado dentro para fora, do pensamento para a acção, então a felicidade, como medida, como indicador, será também a fonte inesgotável de onde brotarão progresso, evolução, desenvolvimento, criatividade. Das suas águas virá a mudança qualitativa que colocará o ser humano de regresso à via do correcto amadurecimento da humanidade.  

E mais. A felicidade não pode ser apenas um atributo das massas. A massa é cega, é bruta, tem comportamento encarneirado. Não, a felicidade tem de ser sentida por cada um, individualmente, com os matizes próprios e únicos de cada ser. E só assim será colectiva. 

Parece-me ser o Butão, dos cento e muitos países do mundo, o único em que impera o bom senso e o equilíbrio (GNH). A felicidade não é aquele expoente máximo de satisfação que se obtém com audis, gajos(as), spas e charutos. É antes um estado contínuo, sem picos resultantes de estimulação pontual exterior. Um estado criativo e inócuo, o único ventre capaz de gerar uma sociedade íntegra.

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