domingo, 28 de outubro de 2012

“O Manual do Homem Novo” – Sétima Parte

(continuação)

Other Worlds - Vladimir Kush

O banho
A água banha o corpo. O silêncio também banha. Toma semanalmente (se possível diariamente) um banho de algumas horas de silêncio. Totalmente só e despojado. Sem livros, sem palavras, sem amigos, sem dinheiro, sem inimigos, sem trabalho, sem lazer, sem máquinas nem aparelhos de espécie nenhuma. Sem ruído interno e se possível sem ruído externo.
Totalmente livre. Inunda-te de silêncio, aos domingos ao amanhecer, às quartas ao entardecer, ou quando quiseres, tanto faz. Mas fá-lo.
Toma esse banho que é tão ou mais importante que o banho de água.
Inunda-te de silêncio e de luz. Tu próprio compreenderás.
 
Não
O homem novo não deseja a mudança. Vai mais profundamente, realiza-a.
Diz que não simples e amavelmente a tudo aquilo que o rodeia e que destruiu o homem velho. Sem regras, sem procurar exemplos, e sem dá-los, efectua a mudança em si próprio. Subitamente, como um clarão, serenamente, há uma explosão silenciosa na mente do homem novo. Há uma flexível firmeza e uma paz e alegria que chegaram sem terem sido procuradas entre as múltiplas e torpes maneiras que o homem velho utiliza.
 
Acção
Não importa o que fazes. Mas deve agradar-te. Na própria rotina pode estar o novo, se deste já a necessária voltinha interior, o salto mental essencial.
Vive cada segundo intensamente, ou seja, com atenção. Sem esforço. Serenamente. Não te isoles. Aproxima-te de todos e aceita-os como são, mas tu continua a viver da nova maneira mesmo entre eles. Não temas ser diferente, não temas ser igual. Não temas. Adiante. Salta!
 
Apego
Ofenderam-te. Porque te sentes ofendido?
Não te agradeceram. Porque esperas agradecimento?
Não conseguiste. Porque esperas sempre um resultado daquilo que fazes? Será que não te agrada o que fazes no preciso momento de o fazer?
Não te apegues ao trabalho. Aceita-o e desfruta dele como uma criança e o seu brinquedo.
Não te apegues às pessoas. Aceita-as e desfruta delas. Não te apegues às ideias, não as aceites. Não as negues. Voa muito alto por cima delas.
 
A importância das coisas
Todas as coisas têm importância em função de tornar-nos conscientes e despertos. E as coisas vivem-se somente no despertar. Se não despertares totalmente, não poderás sequer recordar os teus sonhos de quando dormes.
Tudo aquilo que te adormeça ou distraia do que acontece aqui e agora (e não só do que fizeres acontecer) destrói o mais nobre, o mais subtil, o mais essencial do ser humano. Todo o problema que não seja abordado com brandura e atenção traz consigo escuridão, isto é, a perpetuação do problema. Não toleres as discussões, as conversas banais, os comentários, as troças, as reuniões intelectuais.
A compreensão global fará com que te apercebas de realidades que a princípio não poderás suportar, porque o coração é mais lento que o cérebro, porque foste construído com mentiras e conselhos, com informação e opiniões, com comentários e notícias, com excitação e ruídos e porque não cresceste com cada verdade. Mas não feches os olhos, espera calmamente que a luz invada também o coração.
 
Confusão, ignorância, estupidez
O homem mais confuso é capaz de tomar uma atitude esclarecida: a inacção.
O homem mais ignorante é capaz de manifestar as palavras mais sábias e que melhor conhece: “Não sei”.
O homem mais estúpido deixa de sê-lo quando compreende as consequências de um disparate.
(continua)

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