Other Worlds - Vladimir Kush |
O banho
A água
banha o corpo. O silêncio também banha. Toma semanalmente (se possível
diariamente) um banho de algumas horas de silêncio. Totalmente só e despojado.
Sem livros, sem palavras, sem amigos, sem dinheiro, sem inimigos, sem trabalho,
sem lazer, sem máquinas nem aparelhos de espécie nenhuma. Sem ruído interno e
se possível sem ruído externo.
Totalmente
livre. Inunda-te de silêncio, aos domingos ao amanhecer, às quartas ao entardecer,
ou quando quiseres, tanto faz. Mas fá-lo.
Toma
esse banho que é tão ou mais importante que o banho de água.
Inunda-te
de silêncio e de luz. Tu próprio compreenderás.
Não
O
homem novo não deseja a mudança. Vai mais profundamente, realiza-a.
Diz que
não simples e amavelmente a tudo aquilo que o rodeia e que destruiu o homem
velho. Sem regras, sem procurar exemplos, e sem dá-los, efectua a mudança em si
próprio. Subitamente, como um clarão, serenamente, há uma explosão silenciosa
na mente do homem novo. Há uma flexível firmeza e uma paz e alegria que
chegaram sem terem sido procuradas entre as múltiplas e torpes maneiras que o
homem velho utiliza.
Acção
Não
importa o que fazes. Mas deve agradar-te. Na própria rotina pode estar o novo,
se deste já a necessária voltinha interior, o salto mental essencial.
Vive
cada segundo intensamente, ou seja, com atenção. Sem esforço. Serenamente. Não
te isoles. Aproxima-te de todos e aceita-os como são, mas tu continua a viver
da nova maneira mesmo entre eles. Não temas ser diferente, não temas ser igual.
Não temas. Adiante. Salta!
Apego
Ofenderam-te.
Porque te sentes ofendido?
Não te
agradeceram. Porque esperas agradecimento?
Não conseguiste.
Porque esperas sempre um resultado daquilo que fazes? Será que não te agrada o
que fazes no preciso momento de o fazer?
Não te
apegues ao trabalho. Aceita-o e desfruta dele como uma criança e o seu
brinquedo.
Não te
apegues às pessoas. Aceita-as e desfruta delas. Não te apegues às ideias, não
as aceites. Não as negues. Voa muito alto por cima delas.
A importância das coisas
Todas
as coisas têm importância em função de tornar-nos conscientes e despertos. E as
coisas vivem-se somente no despertar. Se não despertares totalmente, não
poderás sequer recordar os teus sonhos de quando dormes.
Tudo
aquilo que te adormeça ou distraia do que acontece aqui e agora (e não só do
que fizeres acontecer) destrói o mais nobre, o mais subtil, o mais essencial do
ser humano. Todo o problema que não seja abordado com brandura e atenção traz consigo
escuridão, isto é, a perpetuação do problema. Não toleres as discussões, as conversas
banais, os comentários, as troças, as reuniões intelectuais.
A
compreensão global fará com que te apercebas de realidades que a princípio não
poderás suportar, porque o coração é mais lento que o cérebro, porque foste
construído com mentiras e conselhos, com informação e opiniões, com comentários
e notícias, com excitação e ruídos e porque não cresceste com cada verdade. Mas
não feches os olhos, espera calmamente que a luz invada também o coração.
Confusão, ignorância, estupidez
O
homem mais confuso é capaz de tomar uma atitude esclarecida: a inacção.
O
homem mais ignorante é capaz de manifestar as palavras mais sábias e que melhor
conhece: “Não sei”.
O
homem mais estúpido deixa de sê-lo quando compreende
as consequências de um disparate.
(continua)
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