Entrou-me o Outono pela casa dentro. Insistentemente choveu nas janelas e ventou nos telhados. “Não te esqueças que eu também existo!” berrava ele nas rajadas de vento e nas bateladas de chuva. “Previne-te, não queiras ser uma folha ainda verde arrancada prematuramente sem ter sequer chegado a amarelecer!” parecia dizer por entre as pausas da chuva e o breve serenar dos ventos.
E o meu coração ouviu-o. Ouviu-o e sentiu-o. Recordou os Outonos anteriores, preparações imprescindíveis para Invernos frios e letárgicos. Adormece a alma no Inverno. Prepara-se para isso no Outono. É preciso ficar em pousio. É preciso descansar da prodigalidade de Primavera e do tropel do Verão. É preciso morrer para voltar a nascer.
Segreda-me o Outono que devo deixar quieto o pensamento. Diz-me que devo esquecer e deixar que o passado seja passado. Diz-me baixinho que me prepare, que cuide com carinho da chuva e do vento e do desconforto. Pede-me quase em sussurro que não me entristeça com o sol fraquinho do Inverno e com o quadro pardacento que ele pinta no mundo.
E eu obedeço-lhe. Todos os anos lhe obedeço. O seu ritmo é o meu ritmo, pois não sou eu filha da natureza? Então, aqueço a alma no alaranjado fim de tarde outonal, na luz rosada dos amanheceres já frios. E no Inverno remeto-me ao silêncio no sereno cinza plúmbeo que anuncia a tempestade antes da bonança.
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