Andamos cegos. E
distraídos. Limitamos a vida segundo a segundo, olhando-a apenas nos seus
aspectos mais triviais, aqueles que alimentam o prazer imediato, que nutrem o
ego, que tolhem a reflexão. O interesse está circunscrito ao ciclo vicioso do
desejo-satisfação/prazer-desejo. A actual visão hedonista e solipsista da vida
diminui, de modo dramático, a capacidade do indivíduo experienciar a existência
em toda a sua amplitude.
Esta visão redutora, que
coloca os indivíduos num sulco rotineiro, onde a vida é talhada à medida das
tendências da corrente dominante sem que disso eles se apercebam, se por um
lado gera uma vivência cega e inconsciente na corda bamba, na eterna iminência
do perigo, por outro, permite uma entrega voluntária e duradoura ao doce torpor
da ignorância, à ilusão tomada por realidade.
Aprisionámos a percepção
numa torre de marfim. Programámos a inteligência apenas para o jogo-de-cintura
exigido pelo quotidiano fútil, pleno de objectivos supérfluos e de necessidades
inventadas. Calámos a voz interior para que não constituísse contrariedade. E
fechámos os olhos, cegámo-los à força, para não vermos nada mais que os fátuos
clarões do chamado progresso.
Mudos porque calámos as
palavras da alma, surdos porque amordaçámos a voz da consciência e a voz do
silêncio, cegos porque nos deixámos ofuscar pela monumental ilusão do
transitório. Como se tal não bastasse, deitámos ainda mão da distracção. E a
distracção, essa grande fingidora, é o garante de que “tudo está bem” e que
“nada se passa fora do dito sulco”!
Há que abrir os olhos. Os
da cara e os da alma!
Se os abríssemos, e se nos atrevêssemos a olhar para cima, talvez descobríssemos coisas “novas”.
Talvez nos questionássemos quanto ao que fazem aqueles rastos no céu…
Talvez nos interrogássemos sobre o porquê de uns jactos deixarem rastos de condensação que quase logo
desaparecem, e outros deixarem estranhos rastos que perduram, que se espessam,
que se alargam, que vão pintando o céu de um ténue mas triste cinzento…
Talvez
nos surpreendêssemos com os padrões desenhados no céu (em rede, ou em múltiplas paralelas)
e achássemos que os padrões de voo não são normais…
Talvez considerássemos esquisito que alguns aviões consigam descontinuar e continuar esses
rastos…
Talvez achássemos que a afluência de aeronaves numa determinada hora de um determinado
dia é inusitada…
Talvez
nos sentíssemos impelidos pela curiosidade despertada e tentássemos saber o que se
passa. Então contactaríamos as autoridades aéreas mas ouviríamos explicações pueris. Contactaríamos os meios de comunicação social que se mostrariam totalmente desinteressados.
Perante o muro intransponível que se iria erguendo, investigaríamos, procuraríamos informação, buscaríamos explicações. E como
gotas de chuva dispersas, porém filhas da mesma nuvem, causas e origens iriam surgindo. Surgiriam factos, dúvidas e muita desinformação. E os olhos da cara começariam a abrir-se. Os da alma também.
É implacável a marcha destruidora do Homem sobre a Terra. Inexorável o seu desejo de supremacia sobre a Natureza. Infame a sua desmedida ambição. Patética e grosseira a sua sede de controlo. Mas nem assim deixamos de ser cegos e distraídos, surdos e mudos.
Nota: Todas as fotografias foram tiradas por mim, nos céus do norte de Portugal, entre Outubro de 2012 e Maio de 2013.
Isabel,
ResponderEliminarHabituado a olhar o céu, como astrónomo amador vejo beleza.
Claro que por vezes me interrogo sobre certos fenómenos "estranhos" mas ainda não cheguei a qualquer conclusão.
Um beijo
Este comentário foi removido pelo autor.
EliminarMas o mais importante, estimado Dr. Octopus, é mesmo olhar o céu, não é? Que melhor maneira haverá de tomarmos consciência da nossa dimensão?
EliminarBeijinhos
P.S.- Peço desculpa por ter eliminado o meu comentário anterior mas tinha erros.
Pois é, querida Isabel, pois é... :(
ResponderEliminarE é caso para dizer: "Em terra de cego quem tem um olho é... louco e negativo".
E a acompanhar esses "simpáticos" adjectivos vêm aqueles olhares que parecem dizer: "coitada, vive noutro planeta" ou então "lá está ela com a mania das conspirações"! :)
EliminarEnfim...
Beijinhos, querida aNatureza!