Haverá sempre, entre o Homo Sapiens, espécimenes de
alguma forma imperfeitos, inacabados. Não do ponto de vista biológico, mas daquela
parte imaterial do Homem que, existindo, faz dele um ser integral. Aquela parte
do Homem que o faz ver para além do simples olhar, escutar para lá do ouvir, perscrutar
as profundezas do sentir sem ficar na vã superficialidade do trivial. São
muitos, lamentavelmente, os espécimenes que dela estão desprovidos (vejam-se, por exemplo, os comentários de um tal Montez). E por força da sua incompletude sobra-lhes porém, - porque naturalmente, pela lei da compensação, se lhes aguçou - sobranceria em
tosco carácter, vaidade em rudimentar autovalorização, enfatuação em ridículo ensoberbecimento.
Mas há aqueles que são completos, inteiros. Aqueles que consideram
a vida em todos os seus aspectos e profundidades. Aqueles que passam a
fronteira do comezinho apenas habitado pela insuficiência, pela mesquinhez, pela
incapacidade. Aqueles que avançam, sem medo, ou até com ele, pelos caminhos,
sinuosos sim, mas muito sábios, da vida integral: os que são trilhados pelo corpo
e, ao mesmo tempo, consolidados pela alma. Exemplos? Poucos, infelizmente, mas
há-os, e um deles é o escritor contemporâneo J. Rentes de Carvalho! Sou
incondicional admiradora, quer do próprio, quer da sua inigualável escrita. Há
que lê-lo. Ponto.
Escreve ele em “O Rebate” (1971), publicado pela Quetzal
em 2012:
“Estranha, esta angústia do presente,
do futuro.
Estranha, a imobilidade em que me perco, como se tivesse
milhões de horas para esbanjar.
Estranho, o medo que me prende.
Estranha, a inconsciência com que governo o dia-a-dia (a
vida, essa, é ingovernável…).
Não sou o primeiro que deseja o repouso do não-ser, gasto
pelos amanhãs que não vêm – ou temendo-os – pernas e mãos bloqueadas, cérebro
vazio, nauseado, sem saber.
Amanhã!
E amanhã será como hoje, como ontem, insatisfeito,
triste, longe, mas enraizado naquela terra donde vim!”
Indiscutivelmente, J. Rentes
de Carvalho é talento, é genialidade, é completude!
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