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quarta-feira, 22 de maio de 2013

Cegos? Distraídos?



Andamos cegos. E distraídos. Limitamos a vida segundo a segundo, olhando-a apenas nos seus aspectos mais triviais, aqueles que alimentam o prazer imediato, que nutrem o ego, que tolhem a reflexão. O interesse está circunscrito ao ciclo vicioso do desejo-satisfação/prazer-desejo. A actual visão hedonista e solipsista da vida diminui, de modo dramático, a capacidade do indivíduo experienciar a existência em toda a sua amplitude.

Esta visão redutora, que coloca os indivíduos num sulco rotineiro, onde a vida é talhada à medida das tendências da corrente dominante sem que disso eles se apercebam, se por um lado gera uma vivência cega e inconsciente na corda bamba, na eterna iminência do perigo, por outro, permite uma entrega voluntária e duradoura ao doce torpor da ignorância, à ilusão tomada por realidade.

Aprisionámos a percepção numa torre de marfim. Programámos a inteligência apenas para o jogo-de-cintura exigido pelo quotidiano fútil, pleno de objectivos supérfluos e de necessidades inventadas. Calámos a voz interior para que não constituísse contrariedade. E fechámos os olhos, cegámo-los à força, para não vermos nada mais que os fátuos clarões do chamado progresso.

Mudos porque calámos as palavras da alma, surdos porque amordaçámos a voz da consciência e a voz do silêncio, cegos porque nos deixámos ofuscar pela monumental ilusão do transitório. Como se tal não bastasse, deitámos ainda mão da distracção. E a distracção, essa grande fingidora, é o garante de que “tudo está bem” e que “nada se passa fora do dito sulco”!

Há que abrir os olhos. Os da cara e os da alma!

Se os abríssemos, e se nos atrevêssemos a olhar para cima, talvez descobríssemos coisas “novas”. Talvez nos questionássemos quanto ao que fazem aqueles rastos no céu…


Talvez nos interrogássemos sobre o porquê de uns jactos deixarem rastos de condensação que quase logo desaparecem, e outros deixarem estranhos rastos que perduram, que se espessam, que se alargam, que vão pintando o céu de um ténue mas triste cinzento…



Talvez nos surpreendêssemos com os padrões desenhados no céu (em rede, ou em múltiplas paralelas) e achássemos que os padrões de voo não são normais…



Talvez considerássemos esquisito que alguns aviões consigam descontinuar e continuar esses rastos…


Talvez achássemos que a afluência de aeronaves numa determinada hora de um determinado dia é inusitada…


Talvez nos sentíssemos impelidos pela curiosidade despertada e tentássemos saber o que se passa. Então contactaríamos as autoridades aéreas mas ouviríamos explicações pueris. Contactaríamos os meios de comunicação social que se mostrariam totalmente desinteressados. Perante o muro intransponível que se iria erguendo, investigaríamosprocuraríamos informação, buscaríamos explicações. E como gotas de chuva dispersas, porém filhas da mesma nuvem, causas e origens iriam surgindo. Surgiriam factos, dúvidas e muita desinformação. E os olhos da cara começariam a abrir-se. Os da alma também.

É implacável a marcha destruidora do Homem sobre a Terra. Inexorável o seu desejo de supremacia sobre a Natureza. Infame a sua desmedida ambição. Patética e grosseira a sua sede de controlo. Mas nem assim deixamos de ser cegos e distraídos, surdos e mudos.


Nota: Todas as fotografias foram tiradas por mim, nos céus do norte de Portugal, entre Outubro de 2012 e Maio de 2013.

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