Noticiar isto é, só por si, algo ridículo. Num mundo repleto
de horrores, catástrofes, desgraças, injustiças e aviltamentos a todos os
níveis, esta cena do quotidiano parece querer preencher o enorme buraco que a insensibilidade
e a insensatez humanas cavam cada vez mais profundamente.
Ora, verdadeiramente ridículo é, na minha modesta opinião,
considerar este acontecimento insólito e surpreendente. Insólito e
surpreendente será, sim, o facto de as pessoas se espantarem de forma tão
avoada com uma cena quotidiana perfeitamente natural e não se espantarem com as
realidades ilusórias encenadas a que assistem, diariamente, nos meios de
comunicação social.
Os tontos deste mundo aceitam com uma ingenuidade deprimente
e sem ponta de assombro os “factos” distorcidos de uma guerra como a da Síria
(que parece já ter passado de moda, embora se continue ali a exterminar seres
humanos sem qualquer pejo ou escrúpulo) e as “encenações” de actos terroristas,
um “envenenamento” fabricado para benefício de tramas de espionagem
internacional e até as decisões dementes de uma criança grande chamada Trump.
Aceitam, sem um pingo de espanto ou de indignação, ser manipulados por clubes
de futebol e as suas “novelas” e por partidos políticos e as suas sempre “justificadas”
corrupções. Aceitam cegamente e com franca naturalidade o condicionamento
diário do “teatro” da publicidade: “Beba com moderação, mas compre X, Y ou Z
porque é a bebida da moda!”, “Não fume, mas coma comida processada, enfrasque-se
de medicamentos e sobretudo faça um seguro de saúde!”. Nada disto lhes causa
assombro, mas um gato a ronronar nos ombros do dono deixa-os completamente
pasmados!
Pobres néscios! Vivem na realidade ilusória que o sistema tão cuidadosa e carinhosamente cria para eles e quando a vida real os confronta, um gato e o seu dono são coisa do outro mundo!
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