quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Sem Palavras


Poema Visual - Viktor Magalhães

     
      Quem me dera fazer um poema sem palavras
      Todo ele espaço e silêncio e infinito,
      Folhas brancas, luminosas, imaculadas
      Prontas a receber tudo quanto não é dito

      Quem me dera fazer um poema vivo
      Onde crescessem e se multiplicassem as ideias
      Onde a alma do mundo feita belo e grande rio
      Fosse a tinta que me corresse nas veias.

      Se fosse um poema eternamente por escrever
      Todo ele livre e leve como nuvens ao vento
      Sem fronteiras, sem limites, sem idade,

      Não seria o meu poema, seria o de todo o ser,
      Cadinho da vida, momento a momento,
      Tranquila alquimia no fluir da verdade!
 

Carinhosamente dedicado ao meu amigo Vítor!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Jejum e Senso Comum ou a Justa Proporção

 



A propósito de um post do Ricardo Santos Pinto no Aventar, acerca de um livro que recomenda o jejum, eis o que lá comentei e julguei por bem aqui publicar, mais o que me aprouve entretanto acrescentar:
O jejum é uma prática com milhares de anos de existência. Existem registos dela na antiguidade, na história dos mais diversos povos e culturas.
Mas, infelizmente, o Homem, em vez de actuar com senso comum e seguir uma via de evolução inteligente, tendo em conta o que é, e sempre foi, natural, decidiu enveredar pelos caminhos da artificialidade.
Já repararam que, de todos os animais, o Homem é o único que distorce a realidade, artificializa processos naturais, não se contenta nunca com o que é, e cria uma vida de ilusões, de faz-de-conta?
Hoje em dia não ouvimos nem sentimos o nosso corpo. E todas as funções do organismo têm ruídos e movimentos específicos. Para quem está atento, se o organismo estiver são, os ruídos e os movimentos são de determinado tipo e têm uma determinada cadência; porém, se com tendência a enfermar, os ruídos e os movimentos são diferentes, arrítmicos, não habituais. Mas o Homem, na sua ânsia de criação de irrealidades, deixou de ouvir e sentir o corpo, tal como deixou de se ouvir e de se sentir a si próprio!
Um dos resultados, no meio de muitos e bem mais graves, foi o de enveredar por um tipo de alimentação sujeito a modas, tal como os trapinhos! Hoje em dia, quanto mais processado for o alimento, mais é considerado. Ninguém lê os “E” que aparecem nas embalagens, ninguém se dá ao trabalho de se informar sobre todo o cocktail químico utilizado no processamento dos alimentos. Antes pelo contrário: quanto mais industrializada, artificializada, “quimicalizada” e sofisticada for a indústria alimentar, mais o Homem se delicia em orgias gourmet, mais envenena o organismo e mais perde o seu verdadeiro rumo, a directriz nuclear da sua existência, que os antigos tão bem resumiam na frase “Mens sana in corpore sano”. Os conselhos dos sábios de outrora (“Que o teu alimento seja o teu medicamento”, Hipócrates; “Beber diariamente dois litros de água, comer muitas frutas, mastigar os alimentos do modo mais perfeito possível, evitar o álcool, o tabaco e os medicamentos…” As 7 Regras de Paracelso) nem muito remotamente são lembrados.
No lugar da sensatez e da naturalidade inventaram-se métodos e processos que, astuciosamente alardeados como sendo em prol da saúde e do progresso, geram impérios financeiros de que apenas uma minoria usufrui. A maioria, essa, manipulada e estupidificada pelos mil e um conselhos de saúde e nutrição, que segue à risca, e pelos mil e um produtos novos e modernos (e mortíferos), gananciosa e sub-repticiamente tornados indispensáveis, estupidamente arruína a saúde e esvazia a carteira.
Mitos como esse que o Ricardo referiu (comer de 3 em 3 horas) e outros, como a necessidade de beber leite de vaca a vida inteira (o Homem é o único mamífero que bebe durante toda a vida leite de outro mamífero; todos os outros mamíferos param de beber leite após o período de amamentação!) e a de comer carne vermelha para obter proteínas, são “argumentos” astutamente elaborados, porém inteiramente falsos, que constituem o sustentáculo do grandioso império das indústrias alimentares e farmacêuticas.
 “Com papas e bolos se enganam os tolos”: é, pois, vê-los a ingerir coca-cola e hambúrgueres, a comer doces cheios de aspartame e coisas que tais, a mascar pastilhas elásticas e a engolir gomas multicores!
Comer alimentos o mais naturais possível, apenas quando se sente o pequeno incómodo que sugere apetite e em quantidades mais frugais do que abundantes, deveria ser o comportamento alimentar generalizado. Forçar alimentos para dentro de corpo sem que este manifeste necessidade de reposição de energia é uma violência. Comer X vezes por dia, sem disso sentir necessidade, só porque os “entendidos” dizem que assim deve ser, é uma violência. Matar a sede com químicos (refrigerantes, etc.) em vez de com água é uma violência. Matar a fome com alimentos processados em vez de com alimentos naturais é uma violência. Mas comer alimentos naturais e jejuar é seguir os ritmos biológicos, é obter energia com equilíbrio e tranquilidade, é respeitar o corpo e fortalecer a mente.
Bem diferente seria o mundo se o Homem se ouvisse e se sentisse a si próprio!

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Despertares


As palavras serão sempre insuficientes para exprimir sentimentos e acções. Ficarão sempre aquém da intensidade e da profundidade do agir e sentir do homem. As imagens, essas, mostram a realidade nua e crua, e ainda que não descrevam sentimentos, têm por vezes a capacidade de os abalar, despertando-nos do sono da inconsciência.
Só a consciência desperta poderá avaliar com exactidão a sublimidade e/ou a vileza dos sentimentos e dos actos humanos. Só a consciência desperta impulsiona a mudança...





terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Desobrigações


Vladimir Kush

Gostava que me deixassem em paz. Que não insistissem em fazer-me sentir obrigada a algo, seja por meio de palavras, de olhares de reprovação ou de sorrisinhos de escárnio.
Não tenho que ir ao funeral de fulano ou beltrano ou sicrano. Não tenho que engrossar um tétrico aglomerado de enganosos abutres, rostos hipocritamente sorumbáticos, expressões compungidas quase sempre requintadamente escondidas sob óculos escuros. Não tenho por que mostrar às pessoas o que sinto em relação ao morto nem tenho de fingir que somos todos muito unidos e amigos nas “horas de desgraça”. E por que é que a morte há-de ser uma desgraça? A sê-lo, mais desgraça é para quem cá fica, que a saudade por vezes é osso duro de roer. Ou não, se habitarem dinheiros e terrenos no pensamento dos herdeiros. Também não tenho que ouvir o sacerdote, peça chave do dramatismo religioso, que sempre tem o condão de transformar um evento natural num acto lúgubre e sinistro, em que as palavras de uma dita divindade parecem escavar à força um profundo buraco na alma de cada um.
E por que hei-de exultar de alegria com um nascimento? Mais depressa me entristeço. Um novo ser neste mundo decadente, nesta civilização antropocentrista, neste mar de egoísmo e iniquidade, é muito mais um infortúnio do que uma satisfação. Um novo ser que será, desde logo, iniciado na insidiosa arte do viver no faz-de-conta, no quero posso e mando, no vencer a qualquer custo. Um novo ser que terá, desde o berço, o seu pensamento programado, o seu organismo conspurcado, o seu valor intrínseco sufocado, a sua humanidade destruída. Muito menos tenho que ir a baptizados. São violentos. Um pobre ser indefeso, inocente e puro, é submetido a um ritual de iniciação religioso que, a menos abra ele os olhos suficientemente cedo, o tolherá para o resto da vida.
Quanto aos casamentos, a que não vou nem em pensamento, vai a minha preferência para os divórcios. São estes últimos o único laivo de sensatez em todo o processo de encenação vitalícia a que os indivíduos se submetem e a que chamam casamento. O absurdo e o ridículo do acto, desde a preparação à consumação e à vida subsequente, são o que me leva a acreditar que o ser humano, além de revolver-se na mais tosca estupidez, é ainda profundamente imaturo. Casamento é parafernália, é ritual, é tradição, é padrão, é falta de autoconhecimento, de maturidade, de visão global, cósmica. Casamento não é amor, não é prova de amor, não é pilar de suporte para a descendência, não é obrigação nem dever nem devoção. Casamento é negócio. Negócio pessoal, social, político, económico e financeiro.
Tudo, afinal, é negócio. Tudo. O nascimento, a morte, o casamento, o baptizado, a religião, a política, a cultura, a educação. O dia dos namorados e o carnaval, a páscoa e o natal, a noite das bruxas que antes era a véspera de todos os santos, os dias mundiais disto e daquilo. Os aniversários e as bodas de prata e de ouro e de diamante. O amor, o sexo, a solidariedade, a amizade, os princípios, os valores. A ética, a arte, a beleza, a justiça e a fraternidade. As homenagens, os tributos, as celebrações, as comemorações. Tudo é negócio. Até a alma, que é artigo que se vende ao diabo a troco de favores…
De tudo isto me desobrigo. É inútil qualquer tentativa de dissuasão.
 
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