A propósito de um post do Ricardo Santos Pinto no Aventar, acerca de um livro que
recomenda o jejum, eis o que lá comentei e julguei por bem aqui publicar, mais o que me aprouve entretanto acrescentar:
O
jejum é uma prática com milhares de anos de existência. Existem registos dela
na antiguidade, na história dos mais diversos povos e culturas.
Mas,
infelizmente, o Homem, em vez de actuar com senso comum e seguir uma via de
evolução inteligente, tendo em conta o que é, e sempre foi, natural, decidiu
enveredar pelos caminhos da artificialidade.
Já
repararam que, de todos os animais, o Homem é o único que distorce a realidade,
artificializa processos naturais, não se contenta nunca com o que é, e cria uma
vida de ilusões, de faz-de-conta?
Hoje
em dia não ouvimos nem sentimos o nosso corpo. E todas as funções do organismo
têm ruídos e movimentos específicos. Para quem está atento, se o organismo
estiver são, os ruídos e os movimentos são de determinado tipo e têm uma
determinada cadência; porém, se com tendência a enfermar, os ruídos e os
movimentos são diferentes, arrítmicos, não habituais. Mas o Homem, na sua ânsia
de criação de irrealidades, deixou de ouvir e sentir o corpo, tal como deixou
de se ouvir e de se sentir a si próprio!
Um
dos resultados, no meio de muitos e bem mais graves, foi o de enveredar por um
tipo de alimentação sujeito a modas, tal como os trapinhos! Hoje em dia, quanto
mais processado for o alimento, mais é considerado. Ninguém lê os “E” que
aparecem nas embalagens, ninguém se dá ao trabalho de se informar sobre todo o
cocktail químico utilizado no processamento dos alimentos. Antes pelo
contrário: quanto mais industrializada, artificializada, “quimicalizada” e
sofisticada for a indústria alimentar, mais o Homem se delicia em orgias
gourmet, mais envenena o organismo e mais perde o seu verdadeiro rumo, a
directriz nuclear da sua existência, que os antigos tão bem resumiam na frase
“Mens sana in corpore sano”. Os conselhos dos sábios de outrora (“Que o teu
alimento seja o teu medicamento”, Hipócrates; “Beber diariamente dois litros de
água, comer muitas frutas, mastigar os alimentos do modo mais perfeito
possível, evitar o álcool, o tabaco e os medicamentos…” As 7 Regras de
Paracelso) nem muito remotamente são lembrados.
No
lugar da sensatez e da naturalidade inventaram-se métodos e processos que,
astuciosamente alardeados como sendo em prol da saúde e do progresso, geram
impérios financeiros de que apenas uma minoria usufrui. A maioria, essa,
manipulada e estupidificada pelos mil e um conselhos de saúde e nutrição, que
segue à risca, e pelos mil e um produtos novos e modernos (e mortíferos),
gananciosa e sub-repticiamente tornados indispensáveis, estupidamente arruína a
saúde e esvazia a carteira.
Mitos
como esse que o Ricardo referiu (comer de 3 em 3 horas) e outros, como a
necessidade de beber leite de vaca a vida inteira (o Homem é o único mamífero
que bebe durante toda a vida leite de outro mamífero; todos os outros mamíferos
param de beber leite após o período de amamentação!) e a de comer carne vermelha
para obter proteínas, são “argumentos” astutamente elaborados, porém
inteiramente falsos, que constituem o sustentáculo do grandioso império das
indústrias alimentares e farmacêuticas.
“Com papas e bolos se enganam os tolos”: é,
pois, vê-los a ingerir coca-cola e hambúrgueres, a comer doces cheios de
aspartame e coisas que tais, a mascar pastilhas elásticas e a engolir gomas
multicores!
Comer
alimentos o mais naturais possível, apenas quando se sente o pequeno incómodo
que sugere apetite e em quantidades mais frugais do que abundantes, deveria ser
o comportamento alimentar generalizado. Forçar alimentos para dentro de corpo
sem que este manifeste necessidade de reposição de energia é uma violência.
Comer X vezes por dia, sem disso sentir necessidade, só porque os “entendidos”
dizem que assim deve ser, é uma violência. Matar a sede com químicos
(refrigerantes, etc.) em vez de com água é uma violência. Matar a fome com
alimentos processados em vez de com alimentos naturais é uma violência. Mas comer
alimentos naturais e jejuar é seguir os ritmos biológicos, é obter energia com
equilíbrio e tranquilidade, é respeitar o corpo e fortalecer a mente.
Bem
diferente seria o mundo se o Homem se ouvisse e se sentisse a si próprio!