Sou esquisita. Completamente esquisita e desprovida de interesses em comum com eles, os seres que me rodeiam. À excepção, claro, dos aspectos biológicos e fisiológicos, tudo em mim é diferente, ou melhor, é estranho, é esquisito. Para eles, claro, porque para mim é absolutamente natural.
Mas não sou um monstro, nem uma aberração, nem uma deformação. Se assim fosse, a própria natureza já se teria encarregue de me aniquilar. A selecção natural teria funcionado também comigo. Mas não. Sou esquisita por comparação mas não sou esquisita na minha individualidade. E por isso a natureza não vê em mim nenhuma desarmonia que atente ao seu equilíbrio perfeito.
Eles interessam-se por isto ou por aquilo. Eu, por mais que tente, não vejo interesse algum nem nisto nem naquilo. Não sequer é por teimosia, por espírito de contradição. É que não vejo mesmo. O isto ou o aquilo que eles valorizam não tem qualquer valor para mim. Melhor dizendo, tem valor sim, mas única e exclusivamente o valor que lhe é inerente. Nem mais, nem menos. Um copo serve para beber, ponto. E se quisermos exagerar e ir ao âmago da questão, para beber nem sequer é preciso um copo. Mas enfim, libertando-nos de extremos, é para isso que ele serve.
Mas eles, por qualquer patologia incompreensível para mim, ou até devido a um qualquer aspecto da natureza do ser que até agora me tenha escapado, acham que o copo só serve para beber se! Se for de cristal, se for de pé alto, se for finamente trabalhado, se tiver design, se tiver griffe, se for admirado por terceiros, se for cobiçado e desejado, se, se, se!
Ora bolas, até parece que não se trata de um simples objecto mas sim de um complexo tratado de moral e bons costumes. Como se não se pudesse matar a sede recolhendo água nas mãos enconchadas!
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