Primeiro, o período de campanha em que os candidatos parecem
putos a defender a cor dos seus berlindes, inclusivamente com a mesma
infantilidade. Repetem ideias e promessas. Berram até enrouquecer, como se a
palavra gritada tivesse a mesma força e a mesma firmeza da palavra branda que expressa
a verdade. Dizem mal dos seus pares para evidenciar a grandeza própria que
crêem possuir. Mentem, manipulam, distorcem. Gastam dinheiro a rodos. Cartazes,
esferográficas, réguas, almoços e jantares populares. Pequenas merdices pelas
quais o povinho (premeditadamente mantido) inculto se vende sem pestanejar,
pois ainda acredita que há almoços grátis. E a comunicação social, orgulhoso
pau-mandado do sistema (ou da facção que melhor lhe pague), auto-satisfaz-se em orgásmicas manipulações sob a forma de
títulos bombásticos, sondagens e projecções.
A seguir, o dia das eleições. Dir-se-ia quase um acto sagrado,
a julgar pelas expressões mascaradas de solenidade, em total contraste com a futilidade
que a mente interiormente vai alimentando. Tal e qual como se fosse o funeral
de alguém importante e mafioso onde, mantendo-se uma aparência solene e sóbria
como convém, se vão imperceptivelmente sussurrando vernáculos impropérios
acerca do defunto. A hipocrisia, em última análise, é exactamente a mesma. Uns
votando por ignorância, por acefalia involuntária, outros para salvaguardar a
sua própria posição na vasta rede de interesses e negociatas, gerada pelas
máquinas partidárias e pelos sucessivos governos, que vai desde o mais alto
dignitário da nação ao mais ignorante e inculto presidente de junta. Sobram os
que dispõem de cérebro, de integridade e de humanidade (e já vão sendo muitos –
vejam-se os números da abstenção), e que não se prestam a estes ridículos jogos
do poder, não brincam às democracias, não prostituem a sua liberdade individual.
Como diz James Corbett, os líderes políticos não são eleitos, são seleccionados
(they are selected, not elected), mas
é preciso abdicar da cegueira voluntária para se poder constatar a asserção!
E por último, o degradante período pós-eleições. Digladiam-se
as bestas, autênticas máquinas movidas a ambição. Masturbam-se em vitórias
inventadas a todo o custo e nem se dão conta de que todos, sem excepção,
perderam. Perderam mais um pouco de dignidade do pingo que lhes restava. Entraram
em negativo nas áreas de humanidade, seriedade, integridade, honestidade,
solidariedade. E perderam mais valores, mais princípios dos escassos que
eventualmente pudessem ainda possuir. E as gentes, tontas e distraídas com a
azáfama e a confusão instaladas, estupidificam-se com tagarelices de pausa para
café, defendendo os monstros indefensáveis que, sôfregos, continuam a
interminável e sofismável luta em pró de um sedutor e provedor poleiro.
Cada vez que há eleições ficam mais à superfície a
estupidez do ser humano, a sua mesquinhez, a baixeza dos seus objectivos. Tende
a piorar. Até que profundidade conseguirá ainda descer?
Isabel,
ResponderEliminarExcelente texto, obrigado.
Um beijo
Muito obrigada, caríssimo Dr. Octopus!
ResponderEliminarPassei pelo seu blogue e vi textos com muito interesse. Tenho que lá voltar com mais tempo para os ler com muita atenção, pois consigo aprendo sempre muito!
Um beijinho grande também para si!
Isabel
Olá Isabel ;-)
ResponderEliminarAqui está algo que nunca os 5.380.315 boçais votantes irão compreender.
Das poucas vezes que vi numa televisão cenas deste circo, consegui apanhar uma na qual os animais umanos desferiam golpes e coices uns contra os outros!
De resto o esquema "democracia" continua a servir os propósitos das Famílias DONAS do sistema monetário, algo que nem sequer é aflorado, e enquanto assim for os escravos boçais continuam a ter "direito de voto"! No dia em que tal sistema deixar de útil para Elas, então lá se vai o "direito" pela fossa abaixo...
Enfim... A infinita involução desta espécie é algo de extraordinário!
Bjhs querida Isabel
voza0db