The Mirror - Frank Markham Skipworth (1854-1929) |
Eramos mais que uma meia dúzia. O ruído da conversa banal de
hora de almoço, apesar de persistente, não penetrou as defesas que o meu
pensamento há muito havia criado para protecção dos seus raciocínios. Subitamente,
incapaz de resistir à força da curiosidade suscitada por um pensamento que me
habitava havia uns dias, sem quaisquer preâmbulos, disparei:
- Meus caros, por acaso alguma vez se lhes assoma à mente a
pergunta “Quem sou eu?” ou “Porque existo?” ou “Que raio ando eu aqui a fazer?”
Os primeiros segundos foram de profundo silêncio.
- E então? Alguma vez fizeram a si próprios este tipo de
perguntas? - insistia eu.
- Existo porque penso – retorquiu alguém.
- Não, não é isso – a minha voz denotava impaciência – não
quero que me respondam a essas perguntas, quero que me digam se as fazem a
vocês próprios. Quero saber se se questionam dessa maneira…
Por entre a silenciosa resposta da maioria, dada com um
simples abanar de cabeça em sinal de negação, alguém declara:
- Eu é mais o contrário: penso que vale a pena existir por
causa de certas coisas da vida…
Seguiu-se a óbvia gargalhada geral. Segundos passados apenas
e já se havia retomado a conversa banal no banal clima de boa disposição.
Olhei em volta. Vi sorrisos. Constatei a boa disposição.
No silêncio que me impus surgiu-me outra questão: serei eu a
única que se entristece com a ligeireza com que a maioria das pessoas considera
a vida? A única que se assombra com a infinidade de perguntas todavia por
responder?