Sou uma pessoa ridícula. Agora chamam-me louco. Isso seria uma promoção se não fosse que permaneço tão ridículo a seus olhos como antes. Mas agora não guardo rancor por isso, todos eles me são queridos agora, mesmo quando se riem de mim – e, de facto, é precisamente nessa altura que me são particularmente queridos. Podia participar no seu riso – não exactamente rindo-me de mim, mas por afeição a eles, se não me sentisse tão triste quando olho para eles.
Fyodor Dostoevsky em O Sonho de Um Homem Ridículo
Importa-me o que pensam de mim? Importa-me que me achem isto, aquilo ou aqueloutro?
Afinal, sou tudo isso que eles pensam de mim. Sou-o, de facto, para eles. É assim que me vêem. E assim me julgam e assim se convencem que sou o que pensam que sou. Mas a mim, que me importa isso? Não me conheço pelas opiniões deles, conheço-me, sim, pelas que eu própria tenho de mim. Encontro muitos mais defeitos em mim, quando para mim olho, do que eles alguma vez serão capazes de me apontar. E até já se deu o caso de uma alminha me ter tecido um elogio que, sendo completamente imerecido, me abriu portas a uma amálgama de imperfeições que até aí não tinha notado na minha pessoa.
“Não vives neste mundo”, “construíste um mundo irreal”, “ninguém pensa assim” dizem-me tantas vezes. “Isso é absurdo, é rídiculo” insistem. Mas eu, louca e ridícula aos olhos deles, prefiro o meu absurdo à lógica cristalizada dos que assim me censuram. Envolve-me uma densa tristeza, não porque pensem isso de mim mas porque se encerram em definições e juízos, porque se confinam a pensamentos mortos, porque se limitam com uma cerca que nunca querem transpôr. Jamais sentirão o desafio de ser.
Há vida no meu absurdo e alegria na minha ridiculez. Há criação na minha loucura. Há nascimentos e mortes e trevas e luz. Há pensamentos vivos, constatações abismais e campos abertos a fugir de vista para explorar. Mudo de ideias quando quero e não preciso de ser coerente. Mudo com a vida, que ela é sempre diferente. Olho para as coisas sem filtros no olhar, como se fossem coisas novas, nunca vistas, acabadas de criar. E mato sentimentos quando quero porque os apanhei em flagrantes falsidades. Ou crio sentimentos novos e novas formas de olhar porque os apanho subitamente tão repletos de verdade.
O que para mim é, para eles não é. O que me mira e me desafia esconde-se do olhar deles. O que ouço no silêncio não o ouvem eles nem que ressoasse como trovão.
Que me importa o que pensam de mim? Todos somos únicos e eu, absurda, louca e ridícula, quero mesmo é ser como sou.
Com o tempo a importância da opinião dos outros sobre nós cai na mesma proporção em que cresce o valor de nosso mundo interior para nós mesmos!
ResponderEliminarAtualmente não dou a mínima para o que pensem de mim. Aliás, até me divirto com o fato de perderem tempo com coisa tão sem importância!
Abraço, parabéns pelo texto!
É isso mesmo, estimada Sónia! Há tanta coisa de valor dentro de nós a que dar importância!
ResponderEliminarGrande abraço!