Marca-se uma consulta para o dia tal às tantas horas. Pouco
importa se é uma consulta médica, dentária, de advocacia, ou de qualquer outra
coisa. Pouco importa se é do estado ou do privado. O respeito, ou melhor, a
falta dele, é transversal e recorrente. À hora marcada, a besta apresenta-se no
consultório. Senta-se e espera. A hora marcada passa e a besta espera e espera
e espera. A impaciência infiltra-se em cada célula, mas a besta aguenta e
espera. Espera meia-hora, uma hora, hora e meia, duas horas. A besta é mansa e ainda
que borbulhe por dentro, espera. Quando finalmente o consultor chama a besta, a
impaciência desaparece quase por milagre, dando lugar a um quase adulador e
submisso “Sim, Sr. Doutor”.
As horas de espera impediram a besta de realizar outros
afazeres, de estar com os seus, de mil e uma coisas a que tem pleno direito. O
consultor, por sua vez, manteve a besta à espera porque, sei lá eu por que
carga de água, se convenceu de que o seu tempo é muito mais importante do que o
tempo da besta e que, por conseguinte, não há qualquer problema em fazer-se
esperar. Se este convencimento advém de egos inflados, de ganâncias desmedidas
ou de uma gestão deficiente do tempo, a questão fundamental permanece: é uma grandessíssima
falta de respeito pelos outros! E é uma grandessíssima falta de educação!
Se a besta deixasse de ser besta e passados, digamos, uns
tolerantes quinze minutos de espera debandasse porta fora e deixasse tempo vago
não remunerado ao pretensioso consultor, talvez a besta deixasse de o ser e o
consultor se apercebesse que estava a ser uma. Mas, infelizmente, neste país insignificante
e ridículo nada muda: as bestas continuam mansas e os pretensiosos continuam a
agir como bestas!