Um jornal decide ridicularizar um ícone religioso dos povos
islâmicos. Fá-lo durante anos. Dois extremistas decidem pôr cobro ao escárnio. Doze mortos. Um nazi assumido, de nome Breivik, de fortíssimas convicções de
extrema-direita, decide exterminar 77 pessoas.
Os primeiros, por serem muçulmanos, são fundamentalistas,
extremistas, assassinos, embora tenham sido provocados, nas suas convicções religiosas,
anos a fio pelos Charlies. O segundo, por ser ocidental, e apesar da ignóbil
mortandade que perpetrou, teve psiquiatras que provaram que estava doente no dia
em que chacinou as 77 pessoas e é tido como insano…
Dois pesos, duas medidas. O mundo inteiro, imbecilizado pela
subtil formatação do ocidente manipulador, ergue-se contra os dois extremistas
muçulmanos. É maior a guerra que o ocidente faz contra o Islão, e cada vez mais
crescente o ódio que lhe cultiva, do que a guerra que o pretenso Estado
Islâmico trava contra o ocidente.
Durante décadas, a nação mais podre e mais cruel do mundo,
os EUA, invadiu, chacinou, subjugou, violentou, roubou e desrespeitou países
islâmicos. Não o fez em nome de um profeta. Desceu muito baixo: fê-lo em
nome dos deuses Dinheiro, Poder, Ambição!
Indignem-se, choquem-se, chorem, vocês, os que agora se manifestam
com a ridícula cantilena do "Je suis Charlie", mas façam-no por vocês próprios e
por todos aqueles que têm os olhos fechados, já que não conseguem ver a
fabricação e as maquinações do verdadeiro Mal. Ensinam-vos sub-repticiamente a
odiar e vocês, títeres imbecilizados, odeiam pensando que são tolerantes, que
são democratas e, sobretudo, que são livres. Que ilusão tão conveniente…
Indignem-se contra o governo nazi da Ucrânia arranjado pelos
EUA; indignem-se contra os grupos armados pelos EUA que continuam o plano de
destruição da Síria; choquem-se com o genocídio perpetrado por Israel na faixa
de Gaza, atrocidade à qual os EUA fecham os olhos porque prevalecem os altos
interesses sionistas; indignem-se contra a fome, contra a patenteação das
sementes, contra a manipulação genética dos alimentos, contra a privatização da
água, contra a expulsão de tribos inteiras em África para construção de parques
privados de caça, contra a desflorestação da Amazónia, contra o capitalismo
selvagem. Podia continuar a dar exemplos destes até à exaustão mas de nada
adiantaria. Banalizaram-se todas estas ignobilidades…
Quem é melhor do que quem? Tu és melhor do que eu? Eu sou
melhor do que tu? Vocês são melhores do que eles? É desolador constatar, a cada
instante que passa, a profunda ignorância, a abissal estupidez, a incomensurável
ambição e o infinito egoísmo da sociedade actual…
Não, eu NÃO sou Charlie.