terça-feira, 26 de novembro de 2013

Receita de... simplicidade!

Queres acabar com a angústia, com o sofrimento? Fazer desaparecer a frustração, o desejo de querer sempre mais e mais, o vazio que pareces incapaz de preencher? Queres erradicar da tua mente e do teu coração palavras dolorosas como crise, austeridade, corrupção? Sim? Então começa a viver como um verdadeiro ser humano!

Vive o dia-a-dia com a profunda consciência de que de pouco precisas para viver. Tecto, alimento e roupa. Isso é tudo. Todo o resto que pensas que precisas, já o tens. Dentro de ti. Aligeira as posses externas e multiplicarás os tesouros internos.



“Contenta-te com o que tens, alegra-te com a maneira como as coisas são. Quando te apercebes de que não falta nada, o mundo inteiro pertence-te.”
Lao Tzu


Arranja um tecto. Limpo, claro, de preferência banhado pelo sol. E habita-o sem a estúpida preocupação de que seja teu.  Já reparaste que tudo o que possuis é apenas emprestado? Basta-te fechar os olhos e eis que os tão apreciados bens mudam de mãos. E é um processo infindável… Manda as imobiliárias e o IMI para o raio que os partam. Mantém dentro apenas o estritamente necessário. Uma casa cheia de artefactos e geringonças e parafernálias de todo o tipo rouba-te vida porque te distrai. Deleita-te a percorrer-lhe o chão com os pés descalços no Verão, ou a ficar enrolado numa manta quente no Inverno, naquele cadeirão junto à janela, onde os cenários das histórias dos livros que lês se fundem com a paisagem que vês lá fora. 



“Se avançarmos confiantemente na direcção dos nossos sonhos, e nos esforçarmos por viver a vida que imaginámos, passaremos por um inopinado sucesso na nossa vida normal… Proporcionalmente quando simplificamos a nossa vida, as leis do universo parecerão menos complexas, e a solidão não será solidão, nem a pobreza pobreza, nem a fraqueza fraqueza.”
Henry David Thoreau, Walden ou a Vida no Bosque, 1854


Alimenta-te do que é natural. Esquece as mixórdias processadas, cheias de E’s e outros venenos que tais. Esquece as atractivas embalagens coloridas, os anúncios espectaculares que vês na televisão, as marcas badaladas que toda a gente prefere: apenas truques insidiosos para te levarem a consumir o que não precisas. Esquece as novas tendências da cuisine, a fútil e egoísta sofisticação gourmet. Aprende a saborear uma sopa quente de legumes quando as noites frias te entram em casa, ou um fresco sumo de frutas quando o calor te suplica um refresco.

O alimento natural, aquele que não sofre nenhuma transformação, ou quase nenhuma, é o alimento mais adequado ao teu organismo. A Natureza é sábia e os seus frutos providenciam todos os nutrientes de que necessitamos. A artificialização, a industrialização que modifica o estado natural dos alimentos, o fabrico em massa de substitutos do produto natural, são apenas estratégias de lucro. Alguém enriquece enquanto tu, iludido pelo logro do desenvolvimento e da evolução, fazes do teu organismo um parque de doenças.

Pára de beber Coca-cola e Pepsi e todas essas bebidas artificiais. Não porque uma qualquer vedeta possa ficar melindrada, mas porque são prejudiciais à saúde. Acrescenta água à água do teu corpo e mantém assim o equilíbrio.



“Que a comida seja o teu medicamento.”
“A força de cura natural dentro de cada um de nós é a maior força para se ficar bem.” 
“A tudo o que é em excesso se lhe opõe a natureza.”
Hipócrates


Veste o corpo pela única razão de que o deves proteger do frio ou do calor. Aconchega-o com tecidos de fibras naturais. Não lhe negues os movimentos naturais com roupa apertada nem lhe tolhas a transpiração com tecidos artificiais. Cobre o corpo da mesma forma natural com que bebes um copo de água quando tens sede. Com essa mesma naturalidade. Esquece as modas que te escravizam. Esquece as marcas que te fazem cúmplice de desumanidades. Afinal, tu, que és um ser único e irrepetível, por que hás-de querer parecer-te com uns milhares? Tem muito mais valor a tua individualidade e a tua capacidade criativa única do que a aceitação social de um padrão que, mais uma vez, serve, única e exclusivamente, para alguns enriquecerem à custa da tua ingénua e inútil vaidade.

Paulatinamente começa a tornar-te humano. Recusa seguir caminhos já traçados. Nega-te a parecer um artigo de série.

Alimenta a tua mente com o optimismo, com a verdade, com a indescritível e insuperável alegria do momento presente, do agora. 



“[…] Fugir  como se fosse da peste, de todas as pessoas maledicentes, viciosas, ruins, indolentes, invejosas, vaidosas ou vulgares, com motivações inferiores, com mente pobre de entendimento ou que se utilizem de uma vulgar sensualidade como elemento atractivo para os seus discursos ou ocupações. O cumprimento desta regra é de importância decisiva: trata-se de mudar a contextura espiritual da tua alma. É o único meio de mudar o teu destino, pois este depende dos nossos actos e pensamentos. O azar não existe.”
Paracelso, em As Sete Regras de Paracelso


Nutre o teu intelecto com conhecimento, não com informação. Larga os romances cor-de-rosa, os livros sobre política que te manipulam, os jornais diários que te imbecilizam. Procura o saber, o conhecimento, nos legados deixados pelo Homem, antes que o homem se tivesse transformado neste ser amorfo que agora é. Desliga a televisão, o rádio, o telemóvel, que devoram um dos teus mais preciosos bens: o tempo. Não temas, porque não vais voltar à pré-história. Voltarás sim, se assim quiseres, à tua própria história, aquela que em silêncio habita em ti e que, de quando em vez, te sussurra coisas que te deixam inquieto. Que é, afinal, a história universal. A realidade está dentro de ti. Aquilo que crês viver é apenas a ficção que para ti próprio criaste…



“A simplicidade é a suprema sofisticação.”
Leonardo da Vinci


O momento virá em que vais perceber que todos os artefactos de que te rodeias e que crês firmemente que te facilitam a vida, são os grandes responsáveis pela perda dela. Entretido com as geringonças, deixas passar a vida sem lhe sentir o verdadeiro sabor. Atarefado entre um jogo de futebol que te automatiza, que falseia sentimentos e emoções, e o episódio de uma série que gravaste para ver mais tarde; entre as dezenas de chamadas no telemóvel, a maior parte delas desnecessários e inúteis cacarejos e as mensagens de correio electrónico, que mutam e deformam o relacionamento real entre o ser humano, esqueces o que de mais importante existe na tua vida: o autoconhecimento! Passa tempo contigo próprio. Ouve-te. Entrega-te, desarmado, ao silêncio universal. Completa-te contigo próprio.

Chegará então o momento em que colmatar a sede com um simples copo de água, a fome com algumas frutas sumarentas e doces, e o cansaço dormindo durante as horas em que a Natureza dorme, serão actos que, na sua aparente simplicidade, constituirão a mais elevada sofisticação do ser humano. Porque assim procedendo, o ser humano aprendeu onde reside o verdadeiro valor das coisas, aprendeu que a vida deve ser vivida em perfeita consonância com as leis do universo, com os ritmos da Natureza. E a felicidade, aquela coisa que todos procuram e parecem não encontrar, será o estado intrínseco do ser humano que se sabe parte integrante do Todo, da Consciência Universal.



“Tem necessariamente de ser que o que pode ser dito e pensado existe; porque é possível que exista, e não é possível que o que não é nada exista. E isto é o que te convido a ponderar. Afasto-te deste primeiro caminho de inquirição, e destoutro também, em que os mortais que nada sabem deambulam hipócritas; porque a impotência guia o pensamento errante no peito deles, pelo que, entorpecidos, são arrastados de um lado para o outro como homens surdos e cegos. Multidões sem discernimento que crêem que existir e não existir é o mesmo e não é o mesmo, e para quem o caminho de todas as coisas é sempre um voltar atrás!”
Parménides, fragmento de O Poema de Parménides



5 comentários:

  1. Como sempre, excepcional, Isabel, minha querida!!

    Sem dúvida a Vida no Bosque é uma delícia.
    Sinceramente, em relação aos artefactos, confesso a minha culpa. Adoro recuperar objectos velhos, que acho terem sido feitos pelos nossos antepassados com dedicação e carinho. Sei que não são meus, mas sim emprestados. Sei que a minha filha aprendeu já a apreciar a arte dos manual dos artesãos que criam com o coração. Não os compro... ou são achados ou oferecem-nos sabendo que eu gosto... pessoas que estão na moda, não dão valor ao trabalho manual... sabes disso. Eu dou. Sei que ela, a minha filha, já não dá valor a modas efémeras, já aprecia o trabalho de qualquer objecto e sinceramente é bom receber os meus amigos e dela, clientes etc. e quase todos exclamarem: "Mas esta é uma casa de contos de fadas!!" e quase todos fazem questão de a ver toda... daí o meu pseudónimo... e não só. :) É o meu ninho e gosto dele asseado.
    Salamandra ao pé da janela e manta nos joelhos. Ás vezes penso que os que vivem em apartamentos não sofrem o que sofremos nós com tanto frio... mas dar um passo e não ter um pouco de terra que não esteja pavimentada, é algo que me arrepia. Não ter um pouco de terreno que possamos revolver, transformar, ver mudar com as Estações do ano... ainda ontem plantei lindos amores perfeitos e jacintos no jardim. Enfim, as flores de Inverno são as mais belas, bem como os frutos. A Natureza de uma forma ou de outra compensa.

    Obrigada pelo teu maravilhoso artigo e por seres como és. Assim o mundo é melhor, na companhia, ainda que virtual, de pessoas como tu... e o Inverno fica mais quente.

    Um beijo e um grande abraço.

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    1. Minha querida Fadinha, confessar uma culpa? Tu, que do simples fazes arte, que no velho pões coração, que dás vida, por devoção, por dedicação, a objectos inertes e tornas o espaço que te rodeia mais belo? Qual culpa, qual quê, amiga! Arte, sim. Criatividade, também. Mas sobretudo, mais do que oferecer serventia, outorgas beleza aos objectos que tocas. E a beleza, querida Fadinha, é uma das virtudes do Todo que poucos sabem apreciar!

      Beijinho enoooooorme!

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  2. Amiga Isabel,

    Algumas palavras já as conhecia, palavras sábias. Obrigado.

    Deve te dizer que muitas delas já fazem parte da minha maneira de ser e curiosamente ou não quando me perguntam se sou feliz, apeasr de todas as vicissitudes próprias da vida, sinto-me feliz por vezes com poucas coisas como caminhar no bosque, simplesmente.

    Um grande beijo

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    1. Querido amigo Dr. Octopus, por que será que não me assombro com estas suas confissões? E eu própria respondo: porque essas suas sensibilidades deixa-as o meu amigo transparecer em tudo o que escreve!

      Bem haja por saber ser feliz assim tão simplesmente...

      Muitos beijinhos

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  3. Isabel,
    passei hoje para visitar seu blog e fiquei presa por algum tempo a essas reflexões tão sábias. Mais contente ainda por sentir que me aproximo cada vez mais da simplicidade que aqui é ditada. Já não era atraida por futilidades, agora menos ainda. Meu tempo é curto e precioso demais para ser gasto com bobagens. A vida é tão rica de ensinamentos que precisamos calar a mente para absorver o que ela nos quer transmitir. Seu blog é um deleite!
    Um abraço do Brasil,
    Sônia

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