Flight of the Sun - Vladimir Kush |
Todos falamos português, mas parece, a maior parte das
vezes, que não nos expressamos na mesma língua. Ainda que o resultado sejam
sempre palavras, eu falo a partir da alma, do coração, do que sai tanto das
profundezas do meu ser como das alturas do universo. É por isso que não me
entendem. Eles não descem nem sobem. Não sentem vontade de ir mais além…
Falo-lhes da vida, que de tão sagrada deveria ser intocável,
e eles falam-me de vingança, de impor justiça, de matar em nome da liberdade. Pena
que não saibam que vingança é ódio em banho-maria, que a justiça não se impõe,
pratica-se individualmente, que a morte só é aceitável se não acontecer às mãos
de ninguém, e que liberdade é o que se encontra quando a vingança, o ódio, a
imposição e a morte infligida forem meras cinzas desvanecidas e olvidadas.
Falo-lhes da felicidade e da alegria que me inundam, que de
tão intensas e puras quase me elevam ao êxtase. E eles perguntam-me “Estás
feliz porquê?”. Não entendem que não é preciso haver uma razão. Ou melhor, que
não havendo nenhuma, há todas as razões e mais alguma!