Falo e não me entendes,
Sonho e não te encontro nos meus sonhos;
Escrevo a alma inteira e não a vês,
Silencio a voz e esqueces-me.
Penso e já me perdeste;
Afirmo e tu afirmas a minha loucura;
Escrevo com a tinta do espírito e tu não lês,
Calo-me e arrumas-me nos confins da memória.
Não te sigo e tu insistes,
Vou só e sem glória e tu ris-te;
Nos sonhos e na loucura trilho o meu caminho,
Um caminho ao que não te atreves sozinho.
Desnudo-me e tu, surpreendido,
Questionas a minha sanidade;
Dispo tudo o que prezas e
Dispo tudo o que prezas e
Recuso cobrir-me de ligeireza, d’inutilidade.
Reitero a minha verdade e tu escarneces,
Encolho os ombros à tua certeza,
Avanço só, sem protecção, sem defesa;
Não te peço nada e permaneço inteira.
Não me ouves mas começas a ver-me,
Uma imagem indefinida do quanto não és;
Falo e não me entendes,
Calo-me mas persisto no horizonte da tua ideia.
Lamentas a minha loucura, o meu silêncio;
Não me lês nem a alma nem o espírito;
Mas foi ela que em ti engendrou a dúvida
E ele quem acolheu o teu futuro grito.