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Pintura surrealista de Ricardo Fernandez Ortega (nascido em Durango, México, em 1971) |
Se me perco
na bruma do nada,
se estremeço
no anseio de horizontes invisíveis,
se os
imagino e preencho de tudo e de coisa nenhuma
p’ra lhes
sentir a realidade, a função,
sabe que não
é por capricho, nem luxo nem devaneio;
apenas procuro
adivinhar-lhes com os olhos da carne
na
imensidade que os da alma contemplam, o propósito
que lhes
supõe o coração…
E se me
perco na noite escura,
se aos
tropeços apalpo ilusões informes,
se lhes pego
com mão insegura e as cinjo contra o peito
p’ra lhes
encurtar a lonjura, a vastidão,
sabe que não
é por cegueira, nem sandice nem loucura;
apenas
procuro olhá-las com a verdade da alma
e
encontrar-lhes a mentira que encarcera a minha vida
nesta
infinda solidão…
E se pareço
distante, ausente,
se prefiro o
silêncio e os pensamentos mudos,
se os
albergo e nutro à minha única e absurda maneira
p’ra
olhá-los de frente, saber o que são,
sabe que não
é por soberba, nem vaidade nem parvoeira;
apenas
procuro conhecer-lhes o sentido, e neles busco a causa
do desassossego,
do vazio, do medo; da vida, afinal,
a derradeira
razão…